31 maio 2008

Quando se vai pra o campo de batalhas, mais do que ganhar, é preciso aprender... E rápido, porque os ponteiros do relógio não param de rodar enquanto você está em dúvida. E a vida é curta demais para se perder tempo pensando se a blusa verde combina com a bolsa de mão marrom. É curta também para se gastar as horas dormindo pra ver se a tarde passa logo. E assim a semana passa mais rápido, pra ver se chega mais depressa o dia de partir... Ao invés disso é melhor chorar um pouco, reclamar outro pouco, perder um minuto escrevendo que "a vida dói" e "a cidade é cinza" para logo levantar e viver a vida que se tem. E mais que isso, se aproveitar a vida que se tem, se deliciar com a vida que se tem. É preciso parar, pelo menos uns segundinhos pra se pensar o valor da vida. Para assim deixar de viver tão mecanicamente. E perceber quanta coisinha boa a cidade cinza tem e quantas mais coisinhas ela tem me ensinado. O sol do meio dia que queima a minha pele me deixa sempre com a cor do verão. O almoço no R.U. (restaurante universitário)que tanto se fala mal, que tanto se mete o pau, traz as melhores risadas do quarteto mágico. E os finais de semana me ajudam a viver, me ensinam a ter fé e ainda coloca pecinhas preciosas na minha vida. Morar aqui me ensinou a gostar de azul. A ter paciência quando se precisa ( e sempre se precisa ) e a entender que existem coisas que não dá pra mudar, e que o tempo não dá pra voltar. Me ensinou a chorar baixinho no banheiro, a ligar a TV pra não ficar sozinha em casa e a tomar café-da-manhã com o Bom Dia Brasil. E a ir no cinema sozinha. Me ensinou ainda que passar a tarde lavando roupa muitas vezes ( na maioria das vezes ) é bem mais divertido do que ler o texto que a professora, mestra, doutora sei-lá-o quê mandou ler para a próxima aula. Na cidade cinza aprendi a tomar banho de balde nos dias frios, a conversar com desconhecidos (quando eu era criança isso não podia!), tomar capuccino para se prestar atenção na aula, falar em público (isso eu aprendi muito bem), pegar carona e a caminhar do lado das pessoas ( e isso é o que importa). E que rir nem sempre é o melhor remédio, as vezes é preciso chorar ou silênciar a própria dor. Entendi, muito recentemente e com muita dor, que apesar de eu saber muito bem o que é a morte (desencarnação, o espirito se desliga do corpo, o corpo "morre" o espirito não e blá, blá, blá...), eu não sei como lidar com ela, e muito menos com as lágrimas que ela faz brotar dos olhos das pessoas queridas. A cidade cinza me ensinou em dois anos o quanto eu sou capaz de suportar e nesse mesmo tempo me fez virar gente grande. Isso mesmo, gente grande, dessas que têm celular, cpf e conta pra pagar, e que apesar disso ainda consigue ver a cobra que engoliu o elefante, imitar o macaco e dançar a galinha carijó. A cidade cinza me ensinou a calcular, A calcular o valor das coisas. Por exemplo, quanto mais dias se passa na cidade cinza mais gostoso se torna os segundos da cidade colorida. Quanto mais se come a comida do R.U, a comida de casa fica o dobro mais gostosa e a da casa da vó então fica o triplo. E me ensinou ainda uma outra conta, uma conta que só aprendi há pouco tempo (e que é em medida, muito contraditória): quanto mais tempo se vive na cidade cinza, mais se aprende a gostar dela


[04 de julho de 2006]

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