A menina sentou-se no degrau para esperar a chuva passar. Olhou a rua ao longe com o canto dos olhos como quem quer entregar os pontos. Respirou fundo. Olhou as horas. E ficou a ver o sol se pôr por trás dos prédios. Os pingos caíam pesados, nos telhados, nos carros, na rua. E a menina ficou a olhar as pessoas correndo da agua que caía do ceú. Límpida e gelada. Sentada no degrau a se proteger de sei-lá-o-quê a menina sentiu-se tão adulta que teve nojo dela mesma. E sentiu vergonha de estar sentada no degrau. De tentar protejer o cabelo. De não querer se molhar. E de resmungar quando os pingos começaram a cair. Percebeu que estava virando mesmo um cogumelo ( como diria o sábio Pequeno Príncipe).
Esqueceu-se da delícia de se molhar na chuva. De colocar barquinho de papel no fio de agua que corre pelo meio-fio. De ficar com os dedos enrrugados. De pular nas poças d'agua. De molhar e sujar a roupa. De rodar com os braços abertos. E de levar bronca da mãe ao chegar em casa.
A menina sentiu-se pequena por correr da agua que caía do céu. E por um instante ela olhou a chuva com os olhos da infância que ainda há dentro dela. Olhou somente. O corpo da menina não teve forças para novamente tomar banho de chuva, molhar os cabelos e enrrugar os dedos. Olhou as horas novamente. Viu os pingos da chuva enfraquecerem quase que por tristeza de ver que a menina perdera seu encanto. A menina atravessou a rua correndo com a bolsa sobre a cabeça. Entrou no onibus com o olhar cansado. E a chuva desistiu de pingar, na tristeza de ver que a menina, realmente, virara um cogumelo.
[11 de novembro de 2006]
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