31 maio 2008




Um dia eu te pedi pra Deus.
E eu gostaria de ter gravado cada respirar nosso desde que você chegou.
Por razões que a própria razão desconhece (como diria alguém em algum lugar).
Talvez seja por causa da sua voz.
Pela certeza que ela me confia.
Por me fazer arrepiar ou me falar ao pé do ouvido.
Pelas palavras de amor que só ela é capaz de me fazer ouvir e acreditar.
Talvez pelos beijos, pelo toque, carinho, dormir de conchinha e olhar nos meus olhos com vontade.
Talvez pelo modo como você me faz rir.
Ou pelo modo como eu me viro e desviro de preocupação com suas gordurinhas, colesterol, glaucoma e todos as demais coisas que me trazem a sensação maravilhosa que você é de verdade.
Ou pelo modo como eu faço nossos planos sem medo.
Ou porque só você sabe dos meus segredos mais incontáveis.
Talvez seja por causa da sua preguiça que me irrita.
Ou ainda por causa da intensidade futebolística que paira em você.
Ou simplesmente porque Deus, e só Ele seria capaz disso, juntou nossos caminhos no momento exato (isso com certeza).
Ou porque naquele dia no aeroporto quando você me beijou pela primeira vez eu desejei sentir isso pelo resto de minha vida.
Ou ainda por que eu adoro discutir suas idéias neoliberais.
E te depilar. E te ensinar a cozinhar. E dividir meus dias todos com você, como em um certo janeiro.
Ou porque amo poker com você, e fico admirada com suas argumentações quando a "cidade dorme...".
Ou ainda seja porque quero ensinar o Daniel Jorge a escrever seu imenso sobrenome.
Ou também porque vai ser muito brega casar em 10/10/10 às 10hs, mesmo que quando chegar lá isso não dê certo e ainda exista esses tantos KM que insistem em nos separar.
Ou talvez seja por causa de sua inteligência encantadora.
Ou ainda por sua fé. Por sua força, Sua fragilidade escondida...
Não sei, o amor não precisa de motivos.
Eu creio que escrever sempre será meu mal.
Meu vício, ainda que as vezes insista em se acalmar.
Em se calar.
Eu aperto cada sentimento dentro de mim pra ver se o entendo.
Mas eles são tão inconstantes e às vezes tão determinados que me assustam.
Esse tal de tempo passou tão rápido.
E esse tal de sentimento insiste em você.
Você.
Você..
Você...
Pra sempre...
A cada passo que o relógio dá quando os teus passos acompanham os meus, o meu coração entrega os pontos e se rende. Esquece os medos, abre as comportas, desiste de rimar razão e sentimento. Simplismente porque não rimam. E a cada passo sem teu passo, o meu tolo coração suplica. Pede, implora pela sua voz no meu ouvido, seu cheirinho de manhã, suas piadas de pedreiro, seus braços no friozinho da noite e seu corpo abraçado ao meu. Relembra, repassa, recorda cada segundo ao seu lado só pra ver se a dor vai embora... mas ela não vai enquanto você não vem.


[23 de junho de 2007]


E hoje nos lembramos

Sem nenhuma tristeza

Dos foras que a vida nos deu

Ela com certeza estava juntando

Você e eu




Minha herança: uma flor - Vanessa da Mata
[04 de junho de 2007]


A menina espera, porque o relógio teima em passar devagar. A cidade vai se colorindo aos poucos. E seu coração pode bater levemente. Porque seus pés pisarão as mesmas calçadas. Seus cabelos serão balançados pelo mesmo vento. E a dor da ausência se fará ausente enfim.


A menina espera, porque tem saudade sem fim. Do seu cheiro, sua voz, seus braços, beijos e presença. E das borboletas que fazem os medos irem embora aos poucos.
[12 de maio de 2007]



Tem dias que a cidade cinza descansa nos meus olhos sossegada. Descansa seus tons em branco e preto como se não soubesse que eles me machucam. Tem dias eles parecem mais cinzas. Hoje, acho que porque ontem meus olhos se fecharam em outro tom. E de repente se abriram no cinza dessa cidade. Quem sabe seja só uma desculpa pra eu poder brincar com as minhas metáforas. Não sei. Ou a procura desesperada pelos motivos. Só porque meu coração insiste em procurar, e só por isso ele insiste em bater. Tenta enganar meus olhos, sorrateiro. Mas nunca consegue. E meus olhos, vez ou outra, se cansam dessa brincadeira. Respiram fundo (se é que isso é possível) e tenta a todo custo acomodar a dor num cantinho. Pra ver se esqueço que os motivos estão tão distantes dos meus olhos.
[02 de maio de 2007]

A busca cessou-se.
Enfim.
Meus olhos podem fechar-se com calma.
Minha cabeça pode recostar-se.
Minha mão pode descansar na tua.
Meu coração pode bater levemente.
E minha alma pode retirar a antiga placa.
Porque nos teus braços eu sinto gosto de paraíso.
Gosto de pra sempre.
Como nunca o meu faz-de-conta imaginou que ia ser.






[17 de abril de 2007]
As palavras me parecem sempre poucas. E ainda assim preciso delas. Mesmo que só eu saiba as pausas certas. Mesmo que somente eu e você, você e eu compreendamos o sentido.




A menina olha o relógio. Seus ponteiros nunca pareceram andar tão devagar.
E cada movimentar nunca lhe pareceu tão macio.
É o tempo que passa.
E faz ficar mais perto dela o dia.
O dia de desmaiar.
De fechar os olhos e perceber que a espera findou-se.
E que enfim, o menino não existirá mais somente dentro dela.
Mas estará ao seu lado...
Sem meias palavras.
Nem saudade.
Nem distância.
Nem nada.
Só o sentimento.
E o menino a beijar uma flor.
[31 de março de 2007]


Fecha teus olhos, me dê a mão. Faz de conta que não existe distância. Só pro meu tolo coração acreditar. E pedir à nostalgia que pare de formular regras. Que feche os olhos e sinta. Somente. Cada palavra sua pulsar em minha alma. A dor da saudade me acalma, porque ainda que seja dor, é melhor que a da solidão. Todo medo foi embora, e eu posso respirar enfim.


Por favor, fecha teus olhos, me dê a mão. Faz de conta comigo. Deixa eu sentir tua respiração, teu riso, tua voz. A ausência da ausência. Canta baixinho nossa música enquanto caminha. Faça dessas palavras a minha presença. E espera...


... a menina também...
[20 de março de 2007]


As palavras são poucas, desbotam com o tempo. Não conseguem dizer do sentimento que meu coração teima em acreditar. Só porque você chegou, e eu juntei os pedaços que eu perdi um dia pelo caminho. E rezei baixinho, tantas vezes, por você sem eu saber sequer. Na certeza de que nossos caminhos nos trariam até aqui. E hoje as tuas linhas me fazem esquecer da cidade cinza, da distância, da desesperança. Dos sonhos que haviam se perdido, e que voltam agora timidamente. As palavras me parecem desnecessárias. Porque ainda que eu escreva e reescreva, são só palavras. E eu preciso que o sentimento faça sentido. Ver deitar o sol sob os teus braços, castos. Na esperança de que um certo pressentimento não se cumpra. Eu não tenho pressa. Eu estou a te esperar...
[15 de março de 2007]


As palavras são concretas demais. Elas permanecem aqui, ainda que os sentimentos passem. Ainda que eles pereçam. Ainda que não façam mais sentido. No exato momento em que as coloco aqui, elas tomam o mundo. Me definem. Me torturam. Me salvam. Me aliviam. Travam uma batalha constante com meus sentimentos que teimam em correr de lá pra cá, como criança traquina. As palavras ficam. Contra a minha própria vontade. Na esperança, de que um dia, quem sabe, voltem a fazer sentido.



"Escrevo como que para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha." Clarice Lispector.




[06 de março de 2007]








Ah, se eu pudesse por um instante, compreender meus próprios sentimentos.
Talvez eu achasse as respostas certas.
Ou talvez ficasse louca.
Não sei.
Dos meus sentimentos eu não presto conta.
Não dou recibo.
Nem nota fiscal.
Nem comprovante.
Nem garantia.
Pois eles mudam com tanta frequência, que me dão nausea.
E essa inconstância me tortura.








[03 de março de 2007]
Eu gostaria de conseguir escrever sem parecer superficial. Mesmo que só sinta verdadeiramente, quem vive. Esses dias de felicidade que têm gosto, enfim, de paraíso. Ou de como eu imagino que ele seja. Sentir as horas e horas de ônibus. As pernas inchadas. Os sorrisos. O mau hálito de manhã. A saudade matada aos pouquinhos, devagar como tortura. A amizade, que me sussurra eterna.
Se ainda agora eu fechar meus olhos, posso fazer de conta que não acabou. Posso sentir novamente aquela felicidade. Indescritível. As palavras, as músicas, as vozes, as mãos, as promessas de não se abalar com o tempo. E de sermos irmãos uma vez por ano, como eternidade. Se fecho meus olhos, consigo sentir cada sorriso, cada palavra, que fez com que eu sentisse meu coração bater novamente. Pelo ideal que havia se perdido no eco. No eco das minhas dúvidas.
Se exatamente agora eu fechar meus olhos, não os abro mais. Porque, enfim, sinto a felicidade. E posso pôr meus pés no chão.




[26 de fevereiro de 2007]
O paraíso não existe. Eu sei. Mas vamos fazer de conta. Que existe algo além. No fim do arco-íris. Pra gente correr atrás. Dos nossos sonhos imensuráveis. Dos campos verdes pra gente correr. Da felicidade pra gente viver. Da coca-cola pra gente beber. Sem culpa. Vamos fazer de conta. Que o beijo vai ser como a gente imaginou que ia ser. Sem meias palavras. Sem silêncios pertubadores. Só a doce ausência da saudade. Sentir o mesmo vento bater no rosto. Caminhar nas mesmas calçadas. E perceber que o sentimento faz sentido, enfim...
[06 de fevereiro de 2007]
A menina caminha a passos lentos. Chove, ela quer sol. Salgado, ela prefere doce. Quente, ela grita o frio. Calmaria, ela espera a tempestade. Contraditória. Confusa.Se ela sonha nunca é de verdade. Se ela pede, quando chega não quer mais.
A vida pede para ela, coisas que ela não pode dar. Respostas, que ela não tem. Decisões que ela nao quer tomar. Como se fossem café amargo.
A menina quer, brincar pelo caminho. Esperar a vida dar as respostas. Mesmo que ela não saiba de que raios de pergunta é que se trata. Aproveitar cada segundinho. Cada palavra. Cada sentimento entregue. Ao invés de deixar a distância bater martelinho na sua cabeça.

Ela nunca sabe onde vai. Por onde começa. Pra que serve. Nunca sabe o lugar. Nem o que quer. Nem quem....



[01 de fevereiro de 2007]


Conselho é uma forma de nostalgia. Não existem regras gerais. Graças a Deus. Mas tem sempre alguém que acredita piamente, se não deu certo um dia comigo, não dá certo e ponto final. Torna-se uma regra em segundos. Um conselho para se dar, como quem dá milho aos pombos. Já dizia o velho ditado "se conselho fosse bom, não se dava, vendia." Mas para a vida, meu bem, não se deve formular normas. Por mais que nós insistamos nisso, sempre. Para a vida, para o amor, para a amizade, para a liberdade, para a saudade, para nada, enfim. Ainda que nosso coração as formule contra a nossa própria vontade...
E teime em não entregar as chaves. E a querer seguir as velhas regras.


Mas não adianta, o ser humano é nostálgico por natureza...
[27 de janeiro de 2007]
Pra você eu não preciso me fingir de doce. E você me descobre mais do que eu consigo mostrar.
Somente porque temo. Porque uso a razão, sem querer. Porque não consigo, e me odeio por isso.
Com você, só com você, eu senti novamente, ou talvez pela primeira vez, meu coração bater forte o suficiente.
Só de ouvir sua voz me pedindo pra ser seu cobertor de orelha.
E marejar os olhos de vontade de ter você por perto.
Ter coragem de encarar meus medos, só pra sentir sua respiração um dia.
Por você eu fecho meus olhos tarde.
Deixo pistas, nas entrelinhas.
E mesmo assim, não consigo te entregar, o meu pobre coração.
Fecho as mãos como uma menina boba.
Que tem medo do que desconhece.





[24 de janeiro de 2007]


A menina sempre reza. Baixinho. Embaixo do chuveiro.
Pedindo para acreditar que suas preces são ouvidas.
Para a vida deixar de querer ser cinza.
Para o travesseiro deixar de ser seu único companheiro.
Para a tela deixar de ser o único meio.
Para as palavras terem vontade de ser mais alegres.
Pede para o fardo ser mais leve.
Pede para a cabeça deixar de ser dura.
E para o coração parar de insistir em se contradizer.
Ela reza.
Baixinho.
Tem medo.
De falar sozinha, sempre.
[20 de janeiro de 2007]

Eu só queria. Não ter mais que falar sozinha. Não ter mais vizinhos desconhecidos. Não ter mais que ficar sexta-feira a noite aqui. Ou ouvir sempre as mesmas vozes. Ou tentar gostar só por assim dizer. De quem gosta de mim. Só porque gosta de mim.
Só pra ver se assim, eu sentia os motivos.
Mas.. eu devo ter mesmo uma cara muito nojentinha. Dessas que espantam. Cara de limão. Cara de quem tem o ego maior que a alma. De quem acha que o mundo gira entorno do umbigo. Dessas que fazem eles pensarem que eu sou muda. E surda também. Que não ouço as suas vozes da minha janela. Que não ouço o seus risos. E que não os invejo. Por mais que isso soe ridículo aos meus ouvidos. E como soa...
Talvez eu seja mesmo. Uma cara de limão. Anti social.
Sozinha. Com vontade de ir embora.
Agora. Já.

Ah, deixa pra lá.
[20 de janeiro de 2007]


Vai menina, fecha os olhos. Solta os cabelos. Joga a vida. Como quem não tem o que perder. Como quem não aposta. Como quem brinca somente.


Vai, esquece do mundo. Molha os pés na poça. Mergulha no que te dá vontade. Que a vida não espera por você. Abraça o que te faz sorrir. Sonha que é de graça.


Não espere. Promessas, vão e vem. Planos, se desfazem. Regras, você as dita. Palavras, o vento leva. Distância, só existe pra quem quer. Sonhos, se realizam, ou não.


Os olhos se fecham um dia, pra sempre. E o que importa você sabe, menina. É o quão isso te faz sorrir.

E só.




[13 de janeiro de 2007]



Eu cheguei a acreditar. Fechei meus olhos com força. Não olhava mais o horizonte. Não olhava mais o céu. Nem me deitava na rede. Achei poder sobreviver assim. E que esconder a saudade embaixo do tapete, fosse me fazer crer. Mas a dor continua aqui. A cada duas palavras uma é saudade. E eu me canso. Mas não passa. Bobagem. Não é o tempo todo.

[07 de janeiro de 2007]

Apertem os cintos que a felicidade mora aqui dentro.
Olha o verde se perder no horizonte.
Descobre os desenhos que a nuvem fez no céu.
Coloca Elis Regina pra embalar os nossos sonhos.
Chico Buarque pra cantar e repetir.
Pede pro relógio passar lentamente.
Come chocolate sem culpa.
Tem medo da chuva forte lá fora.
Me diz aí quem é o compositor.
Vê na janela corrida de pingos.
Faz planos pra um futuro incerto.
Dorme sem sono.
Fala da vida na cidade cinza.
Ri do que não se pôde compartilhar.


Conta cada um a sua vida, na esperança de que elas voltem a ser uma só.
[04 de janeiro de 2007]

Dos sete pecados, eu fico com a gula
Doce de leite ninho caramelizado
Batata recheada de strogonof
Suco de morango com leite
Chocolate meio-amargo
Pão com manteiga
Rolinho primavera
Arroz com feijão
Pastel de feira
Pão de queijo
Suco de uva
Batata frita
Ovomaltine
Churrasco
Coca-cola
Yakisoba
Tapioca
Risóles
Confeti
[08 de dezembro de 2006]



Seus olhos não encontram os meus. Suas mãos não seguram a minha enquanto caminho. Não ouço sua voz. Não ouço seu riso.
E mesmo assim. Eu quebro minhas tolas regras. Deixo pistas, sem pensar. Sinto seu riso, suas palavras, e borboletas na barriga. Ah, borboletas na barriga...
[07 de dezembro de 2006]
Eu não sei falar do amor. Do amor naquele sentido. Talvez porque eu nunca tenha sentido meu coração bater forte o suficiente. Ou a minha respiração se perder de mim.
Talvez por isso eu elabore minhas próprias teorias. E tento segui-las cegamente. Talvez por isso eu tenha minhas regras inquebráveis. Por nunca ter sentido algo que me faça ter vontade de não tê-las. Fazê-las picadinho.
Quem sabe é pedra, o que tenho do lado esquerdo. Quem sabe é verde. Não sei.
O vale da solidão é comodo demais pra mim.
E eu me espreguiço.
Me canso.
Me deito.
Me esqueço.


[01 de dezembro de 2006]
Calma. Respira fundo. Tudo vai passar. A dor de cabeça. O cansaço. A desesperança.

Ela abre os olhos. Levanta da cama enquanto seu corpo implora por mais cinco minutinhos. Toma seu banho gelado. Café da manhã mais ou menos. Abre a porta e olha o dia que vem pela frente. Onibus lotado. Faculdade nem tanto. Respira fundo. Sua cabeça em outro lugar. Fila. Almoço sem sal. Trabalha com dor de cabeça. E sorri pra não ser incomodada. Bate o ponto. Se equilibra no ônibus. E desce para o resto do dia.
Ah, essa vida de proletária. Volta pra casa não sei porque. Não sei por quem. E deita a cabeça no travesseiro como quem não quer o resto do dia.

Calma. Respira fundo. Tudo vai passar. A dor de cabeça. O cansaço. A desesperança.



[30 de novembro de 2006]

Quero saber. Do seu beijo. Seus olhos. Sua voz. Sua boca. Sua nuca. Seu coração. Ah, eu preciso saber. Que dia sua vida topa na minha. Que dia seus olhos seguirão meus passos. E minha imagem existirá em sua mente, em seus desejos, em seus sentimentos.
A multidão passa. A passos lentos. Cansados. E a menina insiste em procurar. Reluta em meio ao passado. Contra seus próprios medos.
Insiste em acreditar. Na sua voz calma. Suas mãos. Seu cheiro. Seu sentimento. Sua imagem desconhecida.
E a tua ausencia me move.
Mesmo sem saber quem é você..
[25 de novembro de 2006]
A menina sentou-se no degrau para esperar a chuva passar. Olhou a rua ao longe com o canto dos olhos como quem quer entregar os pontos. Respirou fundo. Olhou as horas. E ficou a ver o sol se pôr por trás dos prédios. Os pingos caíam pesados, nos telhados, nos carros, na rua. E a menina ficou a olhar as pessoas correndo da agua que caía do ceú. Límpida e gelada. Sentada no degrau a se proteger de sei-lá-o-quê a menina sentiu-se tão adulta que teve nojo dela mesma. E sentiu vergonha de estar sentada no degrau. De tentar protejer o cabelo. De não querer se molhar. E de resmungar quando os pingos começaram a cair. Percebeu que estava virando mesmo um cogumelo ( como diria o sábio Pequeno Príncipe).

Esqueceu-se da delícia de se molhar na chuva. De colocar barquinho de papel no fio de agua que corre pelo meio-fio. De ficar com os dedos enrrugados. De pular nas poças d'agua. De molhar e sujar a roupa. De rodar com os braços abertos. E de levar bronca da mãe ao chegar em casa.

A menina sentiu-se pequena por correr da agua que caía do céu. E por um instante ela olhou a chuva com os olhos da infância que ainda há dentro dela. Olhou somente. O corpo da menina não teve forças para novamente tomar banho de chuva, molhar os cabelos e enrrugar os dedos. Olhou as horas novamente. Viu os pingos da chuva enfraquecerem quase que por tristeza de ver que a menina perdera seu encanto. A menina atravessou a rua correndo com a bolsa sobre a cabeça. Entrou no onibus com o olhar cansado. E a chuva desistiu de pingar, na tristeza de ver que a menina, realmente, virara um cogumelo.


[11 de novembro de 2006]

A ilusão da democracia

"Por maior que seja a tentação de se entregar ao efeito anestésico das ilusões, não há como negar que viver numa "democracia representativa" significa que as decisões são tomadas sem o voto popular. Significa que o cidadão não vota as leis que está obrigado a obedecer e nem participa diretamente das resoluções dos assuntos públicos. Ele elege representantes, os líderes políticos, para decidir em seu lugar. Apesar disso, o cidadão, com a mesma naturalidade que julga normal a sua não participação na vida pública, exceto no momento da eleição, acredita piamente que vive num Estado verdadeiramente democrático e dificilmente admitirá que os Estados sob o governo representativo são todos oligárquicos, simplesmente porque, na realidade, é uma minoria quem efetivamente governa."

Jorge José da Costa (mestre e doutorando em ética e filosofia política pela USP)

Em momentos como estes, não há como abster-se de falar sobre política....


[06 de novembro de 2006]

Os meus olhos teimam em ver a cidade, cinza, sempre.
O meu coração insiste em sentir.
Saudade.
Minha alma reluta dentro do meu corpo.
Minhas pernas se cansam.
Minha mãos, soltas.
Meus ouvidos doem com seu barulho.
Mas a minha razão ordena calma.
Orderna que as lágrimas sejem enxugadas.
E a tristeza ocultada.
E a sensação de se sentir sozinha, em meio a multidão.
A razão me pede a paciência que eu não consigo dar.
E meu coração teima em procurar os motivos, em vão.
Meus olhos se perdem no que eu desconheço, no que eu não sinto, no que eu não amo.
Perdida.
Sempre.
A cidade cinza.
Por mais que a menina tente.
Como o cachorro, que caiu do caminhão de mudanças...
[30 de outubro de 2006]
A vida vira poesia. Nos olhos da menina. Poesia somente. Sem o dever de ser tristeza ou alegria. Metáforas que brincam em sua cabeça. O relógio que bate devagar na parede azul. Lentamente. Preguiçoso. O vento gelado que entra pela fresta da janela. O quase silencio quebrado pelo barulho do ventilador. A menina chega a gostar da solidão.
As malas que não foram desfeitas. Em cima da cama que não foi arrumada. A poeira em cima dos móveis. E a luz do banheiro queimada. As janelas fechadas, que quase fazem a menina esquecer da cidade cinza. Fecha os olhos para o sol ou para a chuva que cai lá fora.
Deita na rede, olha o céu. Esse mesmo céu que abriga as pessoas do coração da menina. E então, aqui, agora, faz de conta que não existe distância. E daí, nada mais importa. As metáforas fazem cosquinhas na sua cabeça. E seus olhos fazem poesia da vida. Sem o dever de ser tristeza ou alegria...


[17 de outubro de 2006]
Os meus principios ninguem toma.
As minhas regras sou eu quem faço.
A minha vida sou eu quem dirijo.
Simples assim.
Ah, o mundo me cansa.
A barulho da cidade cinza.
O cheiro dos carros na rua.
A doce ilusão da felicidade.
E da eternidade.
Pois, apesar de tudo, de toda a indisciplina, de toda a gritaria, de todas as dúvidas. Meu coração teima em pedir segurança. Andar descalça pelo caminho da vida. Passar pela porta estreita.
O coração da menina se cansou do mundo, de suas promessas, de suas ilusões.
Agora ele bate devagarinho, cansado, calmo e sereno. Pedindo um pouco de Deus.



[06 de outubro de 2006]
Ah, quer saber? Eu não sei mesmo o que fazer.
E daí? Ninguém sabe...
Você está acostumada a viver sozinha. Sempre.
Aliás, você se acostumou a ir no cinema sozinha, escolher o filme que quer e a não ter ninguém de nhém-nhém-nhém no seu ouvido durante o filme. Sabe, estar sozinha é uma posição cômoda. Uma posição boa, eu diria, de certa forma.
E de repente você não sabe.
Você se vê de frente para o espelho, duas blusinhas na mão, os pés descalços e um ponto de interrogação na meio da sua cara no lugar onde deveria estar a maquiagem. O relógio desperta (aquele relógio que você pôs pra despertar para não chegar atrasada.) Você coloca qualquer uma das blusinhas correndo, o seu salto mais alto e tenta disfarçar o ponto de interrogação com um pouco de pó e blush (se é que isso é possivel...)
Daí em diante a coisa só tende a piorar.
Você chega, não sabe se beija, se abraça, se aperta a mão ou se diz apenas "oi, eu demorei?". Depois não sabe se assiste o filme que quer, se pergunta qual ele quer assistir (correndo o risco de ficar ouvindo tiros a noite inteira) ou se tenta entrar num acordo ( o que normalmente resulta em um filme que nenhum dos dois realmente queira assistir.).
Tudo bem, ele é legal, inteligente, bonito e pergunta como foi seu dia.
Ela também, finge ser normal melhor do que ninguém... Fala da faculdade, do ultimo filme que entrou em cartaz, é inteligente e bonita.
Relaxa.
Ninguém sabe o que fazer.
Você olha pra ele, e lá está, um imenso ponto de interrogação. Ele também não sabe. Se segura sua mão. Se compra alguma coisa. Se olha pro relógio ou põe as mãos no bolso. E lá vamos nós...
Ela não sabe, se deve ser ela mesma. Se pode rir alto. E contar piada. E falar mal do governo. Ou se deve, fingir que é normal. Rir quando ele tentar ser engraçado. Falar baixo. E deixar ele pagar tudo (por mais que ela não goste).
Ele não sabe se fala de poesias, sobre filhos ou musculação, simplesmente por que não sabe se você vai achar lindo ou se vai rir da cara dele. Tudo porque ele está perdido... e quem não está?
Tudo bem. Você se resolve e finge que é normal, reações contidas, fala baixo e anda de mão dada com a dele.
Normal.
Ambos estão cansados.
Ambos estão perdidos.
Ambos estão confusos.
Assim como todas as outras pessoas que passam pela rua...


[02 de outubro de 2006]
Eu me acostumei a guardar os sonhos no armário.
A andar calçada ao caminhar.
A adiantar o relógio.
E a sufocar meus gritos.
Normal. As regras. As normas. E os principios.
Tudo metódicamente planejado.
Sempre.
E agora, não sei.

Caminhar de mãos dadas com a sua me assusta.



[30 de setembro de 2006]
A vida é um eterno baile de máscaras.
O dia amanhece e se coloca, a mascara de cada dia.
Finge ser quem não é.
Finge ter carater.
Finge sorrir.
Finge dançar.
Finge ter amigos.
Finge acreditar na própria mentira. (acho até que se chega a acreditar)
E não há coragem para se retirar a máscara.
Há o medo.
De perceber.
Que o sorriso é lágrima.
E que as amizades são como as cobras.
E que ninguém acredita na máscara que se põe.
Mas não tem problema... enquanto você finge ser feliz, a menina também finge acreditar.
Porque todo mundo tem uma máscara escondida na manga.

É, a cidade cinza.
Sempre cinza.
Triste, mas verdade.


[23 de setembro de 2006]
A menina tem um coração (e quem não tem?), doce as vezes, as vezes cansado e quase sempre cheio de perguntas sem respostas.
Um dos terrenos, no interior do coração da menina, está sempre ocupado.
Foi comprado logo que ela nasceu por pessoas a quem a menina aprendeu que se deve chamar de familia. É um terreno vitalício. Está sempre cheio, de açucar e de afeto e hoje em dia de saudade.
Um outro terreno guarda os momentos fatalicos, com muitas partidas de war, muitos téras na madrugada e tapioca na mesa.
Sabe, recentemente mais um terreno foi ocupado, por um quarteto fantástico (através da união de seus anéis).
Há também terrenos individuais (e não menos importantes é claro). A menina vento possui um deles. Uma flor possui o outro.
Quando a menina cresceu (apesar de não ter deixado de ser tão menina...) ela resolveu leiloar um dos espaços que há em seu coração.
- Quem dá mais, quem dá mais. Gritava a menina.
E gritou por anos.
E muito demorou até que alguem aparecesse.
Ainda de vez em quando aparecia um ou outro, ficava algum tempo, mas a menina era menina demais e o terreno ainda não estava pronto.
Certa vez a menina o quis vender a um amigo, mas a única coisa que ele tinha a oferecer era alguns dias de carência. E isso não era suficiente. Porque na verdade ele já possuia outro terreno. E deixou a menina com a sua comprreensão.
Outra vez, o menino moreno o quis comprar. Mas também não possuia muita coisa a oferecer. Havia dado tudo ao mundo e nada sobrara à menina.
Teve também o menino carente que queria de qualquer jeito comprar o terreno. Tentou com flores e com telefonemas incansáveis. Mas para este a menina não queria vender. E não adiantou a insistencia.
E assim, o terreno foi ficando abandonado.
Foi guardando as desilusões, os arrependimentos e os casos mal-resolvidos.
E com o tempo a menina foi se cansando de gritar.
Não havia mais voz.
- Quem dá mais. Fala ela baixinho que até chega a esquecer.
- Tem alguém aí?
Mas só o eco responde: tem alguém aí, alguém aí, alguém aí...
O terreno está vazio, acumulando velhas lembranças, juntando poeira e repetindo o eco.

Mas, agora não importa.
A cidade ao redor da menina não é cinza.
A flor está ao seu lado.
A placa de vende-se foi retirada.

Temporariamente.



[09 de setembro de 2006]



Eu não quero mais falar, pensar e escrever sobre o que mandam e nem ter que cumprir com as minhas obrigações.

Eu quero as respostas para os meus gritos e para as minhas lagrimas.

Eu não quero falar sobre a luta de classes, eu quero falar da minha luta contra mim mesma pra ficar na cidade cinza.

Eu não quero falar das ideologias, eu quero ter novamente meus principios na mão.

Eu não quero saber da emancipação da classe trabalhadora, eu quero poder ser dependente e pedir colo.

Nem quero saber de projeto societário, eu quero fazer planos pro meu futuro e andar descalça no caminho da vida.

O que eu quero agora é achar respostas pras lágrimas que caem quietinhas embaixo do chuveiro.

E pra dor que se sente quando se olha para o lado.

Para o silencio.

Para o espaço ao meu lado enquanto caminho.

E para o telefone que insiste em não tocar.

Eu preciso de respostas, porque meu nome é egoísmo e o centro do mundo é o meu umbigo.



[28 de agosto de 2006]
Ela agora silencia.
Chora embaixo do chuveiro
E reza baixinho.
Por Ele ser tão bom com ela.
Pela rotina
E pelos passos lentos....
Porque um dia ela fez um pedido ao papai do céu.
E toda vez que ela se esquece, Ele a deixa de castigo.


[20 de agosto de 2006]




Tem certas coisas que eu tenho medo de escrever.

De escrever e de falar em voz alta.

Porque tenho medo de minhas próprias dúvidas.

E de minhas convicções abaladas.

Tenho medo de perder as certezas que um dia tive...

E de ver meus principios fazerem eco na escuridão.

De perder o chão. ...

Porque no exato momento em que me deito, as dúvidas preechem minha falta de sono.

E me fazem doer a cabeça.

E pedir ao relógio que pare.

Ao mundo que silencie.

E à vida que espere: porque a menina, agora, está perdida...



[03 de agosto de 2006]





Ela é uma menina de cabelos curtos, tingidos periodicamente. Unhas pintadas, esporadicamente. Óculos de aro preto. Cara amassada ao acordar. E olhos inchados, nos dias das lágrimas. Ela prefere as roupas que não precisam passar, preguisozamente. E as comidas que só se precisa esquentar. Usa sandálias confortáveis, ao invés de ficar se equilibrando no salto. E torra no sol durante as férias pra ficar com a marquinha do biquini. Gosta das bolsas grandes, que caibam tudo que se precisa carregar. E das bolsas das amigas, pra enfiar o dinheiro e o celular e sair, despreocupadamente. Usa filtro solar diariamente. Reparador de pontas semanalmente. Hidratante no corpo quando lembra. E maquiagem quando dá vontade. Ela fala alto. E fala muito. Faz piada de tudo, as vezes até do que não pode, impensadamente. Ela ri estrondozamente. Dela mesma, principalmente. A menina vai ao cinema sozinha, escolhe o filme que quer e as vezes conversa com a pessoa da poltrona ao lado. A menina tem suas próprias regras, como numca beijar desconhecidos e sempre respeitar os horarios (quando dá..). É uma menina de convicções, ainda que abaladas ultimamente. A menina come o tanto que tem vontade. Engorda uns quilos de vez em quando e os emagrece quando tem vontade. Tem celulite. Mau hálito quando acorda. E sono depois do almoço. A menina expressa sua alegria como bem lhe entende, e isso inclui cantar no videokê e dançar em cima da cadeira de vez em quando. E por tudo isso, a menina está condenada a ficar encalhada, eternamente....





[26 de julho de 2006]
Quando se vai pra o campo de batalhas, mais do que ganhar, é preciso aprender... E rápido, porque os ponteiros do relógio não param de rodar enquanto você está em dúvida. E a vida é curta demais para se perder tempo pensando se a blusa verde combina com a bolsa de mão marrom. É curta também para se gastar as horas dormindo pra ver se a tarde passa logo. E assim a semana passa mais rápido, pra ver se chega mais depressa o dia de partir... Ao invés disso é melhor chorar um pouco, reclamar outro pouco, perder um minuto escrevendo que "a vida dói" e "a cidade é cinza" para logo levantar e viver a vida que se tem. E mais que isso, se aproveitar a vida que se tem, se deliciar com a vida que se tem. É preciso parar, pelo menos uns segundinhos pra se pensar o valor da vida. Para assim deixar de viver tão mecanicamente. E perceber quanta coisinha boa a cidade cinza tem e quantas mais coisinhas ela tem me ensinado. O sol do meio dia que queima a minha pele me deixa sempre com a cor do verão. O almoço no R.U. (restaurante universitário)que tanto se fala mal, que tanto se mete o pau, traz as melhores risadas do quarteto mágico. E os finais de semana me ajudam a viver, me ensinam a ter fé e ainda coloca pecinhas preciosas na minha vida. Morar aqui me ensinou a gostar de azul. A ter paciência quando se precisa ( e sempre se precisa ) e a entender que existem coisas que não dá pra mudar, e que o tempo não dá pra voltar. Me ensinou a chorar baixinho no banheiro, a ligar a TV pra não ficar sozinha em casa e a tomar café-da-manhã com o Bom Dia Brasil. E a ir no cinema sozinha. Me ensinou ainda que passar a tarde lavando roupa muitas vezes ( na maioria das vezes ) é bem mais divertido do que ler o texto que a professora, mestra, doutora sei-lá-o quê mandou ler para a próxima aula. Na cidade cinza aprendi a tomar banho de balde nos dias frios, a conversar com desconhecidos (quando eu era criança isso não podia!), tomar capuccino para se prestar atenção na aula, falar em público (isso eu aprendi muito bem), pegar carona e a caminhar do lado das pessoas ( e isso é o que importa). E que rir nem sempre é o melhor remédio, as vezes é preciso chorar ou silênciar a própria dor. Entendi, muito recentemente e com muita dor, que apesar de eu saber muito bem o que é a morte (desencarnação, o espirito se desliga do corpo, o corpo "morre" o espirito não e blá, blá, blá...), eu não sei como lidar com ela, e muito menos com as lágrimas que ela faz brotar dos olhos das pessoas queridas. A cidade cinza me ensinou em dois anos o quanto eu sou capaz de suportar e nesse mesmo tempo me fez virar gente grande. Isso mesmo, gente grande, dessas que têm celular, cpf e conta pra pagar, e que apesar disso ainda consigue ver a cobra que engoliu o elefante, imitar o macaco e dançar a galinha carijó. A cidade cinza me ensinou a calcular, A calcular o valor das coisas. Por exemplo, quanto mais dias se passa na cidade cinza mais gostoso se torna os segundos da cidade colorida. Quanto mais se come a comida do R.U, a comida de casa fica o dobro mais gostosa e a da casa da vó então fica o triplo. E me ensinou ainda uma outra conta, uma conta que só aprendi há pouco tempo (e que é em medida, muito contraditória): quanto mais tempo se vive na cidade cinza, mais se aprende a gostar dela


[04 de julho de 2006]
A gente cansa dessa vida.
Dolorida, que se arrasta pelos dias....
Mas com o tempo até que a gente se acostuma.
A ficar longe de casa.
A estar sozinha.
A não ter dinheiro.
E a ter saudade.
Se acostuma.
Mesmo que não goste muito.


[07 de junho de 2006]
Doloroso sentir isso.
Tudo está acontecendo enquanto eu estou aqui sentada dando milho aos pombos. Todos estão se encontrando enquanto eu estava aqui batendo palmas.
Alguém me explica. Se há uma receita. O que eu estou fazendo de errado. Como consigo estragar tudo, mesmo antes de tudo começar.
Por que eu assusto as pessoas.... Sabe, cansei mesmo.
As janelas continuam fechadas.
E as portas trancadas.
E não há ninguém nas ruas.
Cansei das comédias romanticas.
E dos dramas.
E das comédias (non sense) que tanto assustam os homens.
Quem sabe perderam... o que estava guardado pra mim.
Quem sabe sou frigideira.
Ou ainda quem sabe o pé cansado não gostasse de chinelos velhos e resolveu comprar uma bota.

Agora com licença, que vou ali, rapidinho, alugar um filme, comprar um pote de sorvete e me afundar na minha solidão...


[26 de maio de 2006]
Sabe... cansei.
Dos dias nublados.
Do barulho do relógio.
Da porta fechada.
Da solidão.
Do rosto no espelho, que vejo agora.
Do barulho da TV.
Das músicas antigas.
Da fé, que agora me parece mecânica.
Dos pontos de interrogação.
Da janela cerrada.
Da página em branco.
Do riso estrondozo.
Das palavras secas.
Da máscara que se põe.
Da dor de cabeça que se sente
Da falta de vontade.
Do relógio que bate.
Dos 20 anos.
Do barulho lá fora.
E do silêncio (aqui dentro).
Dos pés calçados.
E de se equilibrar no salto.
Do vento seco.
Das folhas que caem na calçada.
Do sol que queima a pele.
E do frio que a faz ressecar.
Do padrão que se deve seguir.
E das regras que não se pode quebrar.
Sabe... cansei, da vida que se sobrevive.
Da dor e da solidão que se sente....

Agora com licença, que eu vou ver se acho por onde eu me perdi, e volto já.


[20 de maio de 2006]
Já dizia o sábio Vinicius de Moraes....

(...) Senão é como amar uma mulher só linda
E daí?
Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor
E pra ser só perdão
(...)
A vida é a arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida
Há sempre uma mulher à sua espera
Com os olhos cheios de carinho
E as mãos cheias de perdão...
[11 de maio de 2006]



A cidade cinza está nublada. O vento gelado bate no rosto da menina. A garoa cai na janela do quarto. Na parede azul o ponteiro do relógio continua a rodar. E a hora continua a passar. O coração da menina bate silencioso. Bate devagarinho, um pouco cansado talvez. Os seus olhos vagam olhando a cidade nublada. A pessoas mudas caminham nas ruas. As milhares de vidas sem sentido continuam suas rotinas. E a menina... a menina sorri. Porque dentro dela tudo está colorido. Sua alma sorri, tranquila. Por sentir que ainda há esperanças. As vezes, a alma da menina tem medo, as vezes, ela sente vontade de chorar. Mas agora, seus pés caminham na terra firme, em busca da porta estreita....


[17 de abril de 2006]



As palavras não têm sentido.
Não são sentidas pela tela fria.
Nem pelo papel em branco.
Nem ao menos por aquele que as lê.
Não procure sentido pois não há.
Não há no que se vê.
Não há no que se pega.
Há no que se sente.
No que se vive e se tenta escrever.
Essas palavras são poucas.
São vazias
São frias.
Eu tento juntá-las tento apenas.
Só porque eu não gosto do silêncio e não consigo suportar guardá-las aqui

dentro de mim.

[25 de março de 2006]




Eu preciso ter você de volta.

Eu preciso ter você aqui, dentro deste corpo que agora segura a minha mão.

Eu preciso disso pra poder dormir.

Eu preciso que novamente os seus olhos brilhem.

Que sua boca volte a sorrir.

E me faça sorrir.

Que jogue novamente baralho nas tardes quentes.

Que passe o ano comprando coisas para gente fazer bingo no natal.

Que reclame das minhas roupas sujas misturadas com as limpas.

Que assista filmes de faroeste enquanto eu durmo no sofá entediada.

Preciso que você faça pastel de tardezinha, tapioca no jantar e ainda tente me obrigar a comer cuscus com leite.

Que faça canjica pra eu comer com muito açucar e leite condensado.

Que diga que não entendeu o evangelho pra eu te explicar.

Preciso que você continue a achar que eu ainda sou criança.

Preciso que você me mostre que ainda há esperança...

Ah, se eu pudesse te fazer entender... você voltaria a sorrir, e a jogar baralho nas tardes quentes.

Então, me dê a mão, já enrrugada pelo passar dos anos, e faça com que eu veja que você ainda está aí.

Me conte as histórias da sua juventude.

As histórias de quando meu pai era criança ou de quando a senhora fugiu para se casar.

Vamos ver os velhos e pesados albuns de familia, que eu vou tentar adivinhar quem é quem nas fotos envelhecidas.

Vamos ao centro da cidade ver os enfeites de Natal.

Vamos ao cinema assitir filmes nacionais.

Vamos à feira comprar DVD pirata.

Vamos, por favor, vamos, voltar a viver...

Que toda noite eu vou rezar pro papai do céu cuidar daquele que agora está distantes de nossos olhos...



[25 de março de 2006]
"Estranha arte, a de morar sozinho.
Arte dos adiamentos eternos e das conversas com a geladeira.
Arte de ter fome e não ter nada no armário.
De chegar cansada em casa e dormir de calça jeans e tudo.
De não ter quem te cuide quando estás com febre.
De ter somente agua na geladeira.
E uma unica toalha limpa.
De chorar baixinho enquanto toma banho.
Arte de ligar a TV pra não ficar no silencio.
E de ficar quietinha ouvindo o barulho la fora.
Dolorida arte, doce arte, estranha arte.
É exercitar a loucura de nascer todos os dias no tempo.
É caminhar entre os meses como quem chuta pedras no chão.
E a campainha - a campainha continua quebrada. "



[05 de março de 2006]
A menina agora parece não querer ter sentimentos.
E ela quer negar seu sentimento, apesar de continuar a sentir.
Seu coração já acostumado bate sempre no mesmo ritmo.
Seus olhos sempre secos se perdem enquanto enxergam a cidade cinza.
Enquanto isso seus pés caminham mecanicamente para onde sempre vão.
Seu corpo já está acostumado, mas seu coração teima em relutar.
Seus olhos teimam em se abrir e querer ver a outra paisagem, mas vê tudo sempre cinza.
Nas ruas os carros correm.
Nos rostos os olhos estáticos.
Na televisão as pessoas sempre felizes.
E a vida segue, fingindo não ver a menina triste. E
a menina triste finge não ver a vida seguir.
Ela finge que a vida pode esperar por ela.

[20 de fevereiro de 2006]


As vezes eu acho que Deus pensa que eu sou adulta... que eu posso lidar com todos esses problemas que Ele coloca em minha frente agora...

Acho que Ele se esqueceu que ainda sou uma criança insegura dentro desse corpo, tentando não chorar... tentando mostrar que está tudo bem quando sabe que não está...

Uma criança que saiu de casa sem saber o que estava fazendo e tomou decisões pra fingir que já era grandinha.

Essa criança agora, quer chorar, espernear no chão e fazer birra... essa criança agora, quer mamadeira e uma cama arrumada e quentinha na qual ela tenha que simplesmente deitar e dormir... ela quer acordar com a mamãe chamando, e batendo na porta do banheiro quando ela estiver tempo demais com o chuveiro ligado... ela quer um chuveiro com agua quente!

Essa menina agora quer poder olhar pra trás e voltar atrás de seus atos quando achar que fez algo errado.

Quer não ter que provar pras pessoas que é capaz, ela quer simplesmente poder ser incapaz de vez em quando, desistir quando cansar de alguma coisa...

Mas eu não sei porque... talvez porque ela já tenha 19 anos ou porque não exista elefante cor de rosa com cabelos encaracolados e sapatos de boneca... ela não controla as coisas, ela não consegue controlar nem seus atos, nem suas palavras...

Talvez ela esteja cansada agora, depois de ter dormido na aula de Fundamentos Filosóficos e conversado na aula de Teoria de Serviço Social, ela ainda tem uma monografia pra entregar daqui 20 minutos e um cesto de roupa suja cheio pra lavar... e a vida não quer saber se ela está cansada... a vida não quer saber das suas lágrimas, da sua decepção com as pessoas, com seus compromissos que ela não quer cumprir e nem com sua falta de dinheiro... Ela está cansada... e ninguém quer dar colo pra ela...



[08 de junho de 2005]
As vezes eu percebo que eu estou me tornando uma pessoa estranha... uma pessoa racional... o que há tempos me soaria muito estranho dizer... ser racional...
O que significa ser mais forte do que eu realmente sou...
Segurar o choro ao ver minha mae tão fragil...
Ir ao cinema sozinha ao invés de invés de ficar em casa pensando que não há ninguém pra ir comigo...
Ficar tanto tempo sozinha... estar a vida inteira sozinha e me manter calma achando que o amor um dia vai aparecer...
Estar cansada e estressada e estar quase explodindo e fazer o trabalho de filosofia de madrugada ao invés de jogar tudo pro alto...
Dormir quando se tem vontade de chorar até começar a soluçar...
E ainda rezar mais do que reclamar...
Economizar ao invés de descontar minhas magoas todas em uma tarde na praça de alimentação do shopping...
Achar que as doenças saram, a dor passa, o estress é TPM, e a tempestade logo vai passar... sem choro e sem ter jogado tudo pro alto antes que tudo se resolvesse por si mesmo...
As vezes esse meu tornar-se racional me machuca... as vezes eu quero poder dar uma de fraca e chorar por não se ter um amor...
Mas a vida agora não me deixa ter esse tipo de regalias...
reciso ir pra casa do meus pais... pra poder me sentir fragil, me sentir incapaz e chorar e pra sentir que tem gente pra me protejer desse mundo dolorido...


[21 de março de 2005]
Um dia eu pedi pro papai do céu pra deixar eu fazer escolhas... talvez eu achasse que soubesse o que era bom pra mim.
Pedi ainda pra ele a felicidade... e ele disse que isso dependia da minhas escolhas.
Pedi depois que ele me ajudasse a escolher... ele disse pra eu pensar bem, e agir com o coração e disse ainda que eu ja era bem grandinha e ia saber fazer as escolhas certas...
Aí um dia eu escolhi... escolhi vir pra cidade cinza.
Talvez eu não estivesse bem nesse dia... talvez eu tivesse com muita dor de cabeça e disse qualquer coisa sem pensar...
Talvez ainda eu tivesse dormindo e escolhi logo pra poder voltar a dormir... não sei, só sei que quando escolhi não sabia bem as consequencias dessa escolha...
Ontem pedi pro papai do céu se eu podia voltar no tempo, se eu podia mudar minhas escolhas, voltar pra minha cidadezinha...
Ele, muito paciente, me disse que não.
Eu, com medo, implorei...
Ele me disse, olhando com seu olhar paternal, que eu fiz a escolha certa...
Eu, agora chorando... perguntei se ele era cego e não estava vendo no que minha vida tinha se tornado. Mandei ele olhar pra mim e ver se eu estava feliz, pedi que ele olhasse pra minha vida, pras minhas tardes inuteis, pra menina que mora comigo, pra distancia que me separa da minha familia e daqueles que amo...
E Ele, com sua bondade de Pai que a todos os filhos ama e compreende me disse:
- " filha querida, não fale as coisas sem pensar, não chore diante das suas infimas dificuldade, olha a teu redor e veja quanta coisa boa eu coloquei no teu caminho, olha aquelas almas amigas que já cativaste nessa sua "cidade cinza", olha a oportunidade de aprendizado que apenas tão poucos desfrutam... Filha minha, és privilegiada e não é capaz de ver... é voce que se faz de cega diante das felicidades multiplas que te ofereço.. não chores, querida... toma vergonha na cara e vai estudar ao invés de ficar postando!

E eu... Bom, eu fui estudar... antes que ele resolva me por de castigo...


[23 de fevereiro de 2005]

30 maio 2008

Não queira nunca entender a vida...
Não procure decifrá-la... nem perca seu tempo pensando no porque as coisas foram parar onde estão agora...
Ou como você foi parar num laboratorio de informatica da faculdade pra despejar suas angustias em um blog!
Ou o que você faz numa cidade grande e cinza longe da sua familia e de seus amigos...
Ou porque ainda algumas vezes você chega a gostar de uma cidade cinza e que ela as vezes parece até que tem alguma coisa de cor...
Não procure a resposta do porquê voce está sempre sozinha... e ninguém quer namorar você... (e porque em certas circustancias você acha que isso é uma coisa boa ?!?!)...
Não pare pra pensar nessa vida que você leva... nem no leite com bolachas que você acabou comendo no domingo no lugar do almoço... nem na sua imcapacidade de parar de comer carne vermelha.. nem na menina que agora mora com você... nem em você matando aula de Comunicação e Espressão pra concluir esse post...
Não pare pra pensar no porque as coisas estão como estão... e nem porque você não vai parar pra pensar nessas coisas...
Não pense em nada disso... porque ou você fica louca (como acho que estou ficando) ou você perde a oportunidade de viver esses momentos... ( e ainda de modificar o que você acha que está fora do lugar...)


[14 de fevereiro de 2005]

Gosto do silencio.


Gosto de ficar aqui.


Quietinha, como se não houvesse nimguém que me leia.


Gosto de poder escrever e principalmente de poder chorar enquanto faço isso. Gosto de rir com as bobagens que já escrevi. E de viver. Mesmo que eu não faça a diferença pra ninguém.


Mesmo que eu seja anonima no mundo.


Mesmo que me sinta tão futil perdendo meu tempo em frente a esse computador.


Apesar dos pesares.


Esse lugar me sustenta.


Esse lugar me ajuda a por pra fora.


Todos esses sentimentos que guardo aqui dentro. E que tenho tanta dificuldade de repartir. Esse lugar me ajuda a me compreender. Mesmo que as vezes eu ache que isso é impossivel...
[06 de janeiro de 2005]

Receita de Ano Novo

Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação
como todo o tempo já vivido (mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come,
se passeia,
se ama,
se compreende,
se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade,
recompensa, justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados,
começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo,
eu sei que não é fácil, mas tente,
experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.


[06 de janeiro de 2005]
A vida agora me parece algo tão incerto.
Meu coração dói tanto que anula a minha vontade de que o ano começe...
Tenho medo de que a doença te leve pra longe da gente.
E com você leve também todo o sorriso da minha avó.
Vejo os olhos teus perdendo o brilho a cada dia. Vejo as tuas pernas cansadas dessa caminhada. E por mais que eu lhe beije a face já enrugada pelo pesar dos anos e lhe diga que te amo com todas as forças que ainda me restam, e por mais que eu tente te alegrar com as minhas piadas já gastas... vejo você esmorecendo aos poucos. E isso me causa tanto medo. Mais medo do que eu sou capaz de lidar....
Não deveria existir tempo.
E nem os anos poderiam passar para que você numca ficasse mais velha. Porque agora eu consigo sentir que as pessoas vão ficando mais velhas e um dia elas vão morar lá no céu... Ah, avózinha, se você pudesse entender o quanto eu te amo... você sorriria mais e não desistiria da caminhada assim tão facil...
E se eu soubesse que o seu tempo aqui é curto e que talvez não poderei lhe beijar a face na virada do ano ainda que você já estivesse dormindo e cansada como nesse.... Eu comeria da sua comida até me sentir empanturrada... e pediria pra assistir videos antigos de casamento da familia mais vezes... e ainda te diria que te amo... e contaria as ultimas novidades da minha casa nova...
E por mais que a tristeza me invada ao te ver assim tão fraca... começou um novo ano e você ainda está aqui ao meu lado... ah se você soubesse de quanta felicidade isso me inunda...

[06 de janeiro de 2005]
Essa semana eu fui na delegacia.
Eu não tinha faca e comi bolo com a mão.
Essa semana eu tomei café.
Eu dormi sem querer no ônibus e quase passei do ponto.
Essa semana eu fiquei sozinha e não tive com quem conversar.
Eu me molhei toda na chuva ao invés de esperar ela passar.
Essa semana demorou pra passar.
Essa semana eu andei de sombrinha por causa do sol.
Eu lavei os tapetes e só varri a casa pra ver se ela ficava menos suja.
Eu passei alguns dias ao lado da minha irmã do coração.
E essa semana eu comprei um livro.
Essa semana eu brinquei de amigo-oculto.
E eu ganhei um cd maravilhoso de mpb.
Eu dormi a tarde.
E fiquei com medo quando acabou a luz.
Essa semana eu esqueci de lixar minhas unhas.
E fui no cinema novo que inaugurou.
Essa semana é enfim a ultima aqui.
E amanha eu volto pra casa.
E vou ver minha mãe, meu pai e meu irmão.
E dormir na minha cama quentinha.
E vou passar as férias inteirinhas sem ter que comer baguncinha e espetinho de jantar.
E vou deixar essa cidade barulhenta por pelo menos um mês......

[16 de dezembro de 2004]
Eu queria ser capaz de escrever sobre outra coisa. Outra coisa que não fosse a minha dor por morar aqui, a minha saudade, a minha tristeza e solidão ou a minha decepção com a existência do amor. Eu queria ser capaz de descrever a minha alegria da faculdade, o meu sorriso aos finais de semana e a felicidade que sinto por estar viva. Eu queria ser capaz de transcrever as minhas felicidades com palavras belas que fizessem quem ler, sorrir e sentir a felicidade também. Mas parece tão mais dificil dizer da felicidade que aqui minha vida parece ser uma dor sem fim. A dor é mais facil de ser escrita tanto quanto mais dificil de ser sentida. Parece-me que quando não se tem um amor que amenize os sofrimentos da vida, a dor se sente mais sentida e as lagrimas ficam implorando por alguém que as enxugue. E mesmo que eu diga que não acredito no amor (eros) e não o quero na minha vida agora, eu preciso de alguém que me faça mudar de assunto. Pois eu mesma não aguento mais ter que escrever que a "vida dói" e principlamente não aguento mais sentir a dor da vida. Porque eu quero sentir a respiração de alguém perto da minha. Andar de mão dada a alguém e dividir o milk shake do Bob's. Preciso de alguém pra quem contar meus planos. Pra ir ao cinema e tomar chocolate quente em dias frios (mesmo que quase não existam dias frios aqui). Alguém pra pensar no silêncio e me abraçar quando eu chorar porque quero ir pra casa. Pra eu finalmente parar de querer tanto voltar pra casa....
[09 de dezembro de 2004]
Viver dói.

Só as vezes.
Não o tempo todo.

Mas assim... quando me vejo sozinha. Quando não tenho com quem conversar. E quando me roubam o celular e fico incomunicável. Quando estou longe da minha familia e não passo o aniversário do meu pai junto dele. Quando me falta dinheiro até para pegar onibus para ir no centro espirita. Quando começo a rir sozinha na frente da TV. Ou quando e principalmente quando estou aqui sozinha.
Mas a vida não é sempre assim. Não é sempre que a vida dói desse jeito.

Dói só as vezes.
Dói só um pouco.
Mas logo passa... eu sei...



[06 de dezembro de 2004]
Eu estou sozinha... literalmente.
A minha amiga que mora comigo já está de férias e já voltou pra casa... e aqui estou eu.... com a casa só pra mim.
Não sei se isso é bom. As vezes bate uma solidão. Não ter com quem conversar.
Mas em partes até que é bom. Eu posso limpar a casa quando quiser. Posso me empanturrar de comida sem nimguém pra chamar a minha atenção e dizer que depois sou eu que vou ficar gorda. Posso andar de calcinha e blusinha pela casa. Posso dormir de camiseta velha. Não me preocupo se nimguém volta pra casa na hora de dormir. Posso fazer os meus trabalhos de madrugada sem me preocupar em acordar alguém. Posso ligar o som de manha e não tomar café da manha se eu quiser...
Estar sozinha tem la suas vantagens... O problema é que não tem ninguém pra me ajudar a limpar a casa. Ninguém que lave o banheiro (que eu odeio...). Não tem ninguém que me acompanhe nas minhas estravagâncias na padaria e no banguncinha. E não tem ninguém que me conte as novelas que eu não perco tempo assistindo...
O pior de tudo é ter que chorar sozinha sem nimguém pra me abraçar. Porque não tem graça chorar com amigo homem... que eles não sabem o que fazer, eles não te abraçam... ficam mudos e dizem "não se preocupa, tudo passa..."
As vezes eu quero ir embora, mas as vezes até que dá vontade de viver aqui... Ah... essa menina... complicada como ela é...


[03 de dezembro de 2004]



Eu não acredito no amor. Nem na felicidade. Nem em nada dessas coisas que inventaram e nos fizeram acreditar que existem. E agora mais do que nunca eu quero ir embora daqui. Desse lugar que me faz sofrer. Da indiferença dessas pessoas. E ele não me olhou nos olhos quando falava. E eu me senti a pessoa menos apaixonavel do mundo. Porque o amor não foi feito pra mim. O que foi feito pra mim acho que foi as lagrimas, a decepção, a solidão, a religião e a fé. Porque essa garotinha agora não acredita mais no amor e nem na felicidade. Ela não acredita mais nos sonhos. Ela agora aprendeu que a felicidade não é deste mundo. E apesar de parecer que ela perdeu a fé essa foi a unica coisa que ela não perdeu. Agora a fé bate junto com seu coração e a faz respirar. É a fé que a faz trer forças pra continuar e não sair correndo dessa cidade nublada e cinza.
[14 de agosto de 2004]

E finalmente aqui estou... de volta ao lar.

Por quatro dias de felicidade... porque Deus é bondoso e justo e não permite que seus filhos sofram além do que eles podem suportar.

A casa da gente é o melhor que há no mundo.

É um lugar pra se viver pra sempre... pra não deixar nunca.

Ai daqueles que a deixam... como hão de sofrer!

Porque na casa da gente a comida é sempre mais gostosa.

A cama sempre mais quentinha.

A roupa sempre cai melhor.

A televisão até parece divertida.

E tem computador e internet pra gente escrever no blog. T

em mãe pra fazer dengo na gente.

E pai pra pegar a gente no colo.

Os dias naquela cidade parecem sempre nublados.. e quando não, parecem quentes demais.

A dor naquela cidade parece sempre muito maior.

A noite parece mais curta.

A fome parece insaciavel.

Muitas das pessoas ainda me são estranhas.

Apesar de tantos nãos aquela cidade parece fazer um pouco de sentido.. as ruas já me são familiares e eu começo a me acostumar com aquele lugar.

Pensei inumeras vezes em voltar aqui pra dizer tudo aquilo que eu estava sentindo... cheguei até a fazer uns rabiscos no fundo dos meus cadernos... mas aquela cidade numca colabora comigo... e foi impossivel vir aqui antes.

Até agora eu não me dei conta de tudo.

Eu olho tudo em volta e volto a achar que moro aqui nesse lar quentinho.

Eu não me dou conta de que eu terei que voltar pra lá... e que agora é lá que eu moro.

Sem familia, sem nada.

Diversas vezes chorei.

De saudade.

De dor.

Menos de felicidade.

Diversas vezes eu também sorri.

Porque apesar de tudo... há muitos momentos felizes.

E estou aqui. Em casa. Sem vontade de ir embora.

Com vontade de abandonar tudo aquilo.

Mas consciente do que devo fazer.

Por mais que eu não queira, e que doa.

Eu odeio quando tenho essas atitudes racionais demais...





[12 de junho de 2004]


Eu não sei o que será desse meu canto daqui pra frente.

Porque eu estou partindo e a vida lá fora é incerta.

Peço a Deus a cada instante que me proteja e me ampare.

Que me indique o caminho a seguir.

Porque tenho medo e nada posso fazer.

Chegou a hora de ir embora.

De deixar isso e seguir o destino.

Mesmo que eu não queira.

Sinto em mim uma dorzinha indefinível.

É uma saudade do que ja passou.

É uma saudade dessas pessoas que amo e que deixo.

A vida é mesmo assim... incerta.

Já empacotei minhas coisas e fiz minhas malas.

Peguei minha girafa e meu leão-marinho de pelúcia, meus porta-retratos, meus brincos, minha caixa de recordações e o endereço dos amigos.

E agora está tudo lá.

Naquele lugar que não é meu lar... mas que terá que ser.

Naquela cidade que não é a minha... mas que daqui pra frente será.

Mesmo que agora eu não queira nada disso... é isso o que eu tenho.

É isso que tem que ser feito.

E por mais que eu tema tudo isso, bate em mim uma ansiedade e curiosidade a respeito de tudo o que virá.

E sei que Deus está preparando o que há de melhor pra curar minhas feridas...

Sei que Ele não há de me desamparar.

E que no final tudo dará certo.

E enfim chegou a hora de partir.

E desse meu canto não sei o que será...

Sempre que a vida permitir eu volto pra dar noticias.

Prometo. Palavra de blogueira!


[14 de maio de 2004]





Penso em você.



Em cada instante.



Em cada respirar.



Em cada bater do coração.



A cada momento, em tudo o que acontece.



E eu quis novamente que sua mão tocasse a minha. E que você se sentasse ao meu lado enquanto eu almoço. E que você ficasse daquele seu jeito timido querendo segurar minha mão e me dar aquela rosa. Eu queria o seu olhar. As suas palavras. E me sentir como se fosse derreter quando você me olha. E não queria desejar tudo isso.



E não queria pensar assim em você. E queria poder dormir.



Não queria que você invadisse meus pensamentos, minha alma e meu coração.



E não consigo controlar esse meu gostar de você.



E me vejo adiante chorando novamente.



Por sua causa. Por minha causa.



Por causa desse meu jeito incontrolável de me apaixonar facil demais.....



[10 de maio de 2004]



Mês de Maio


[Almir Sater e Paulo Simões]


Azul do céu brilhou

O mês de maio enfim chegou

Olhos vão se abrir pra tanta cor

É mês de maio

A vida tem seu esplendor

Raio de sol entrou

Pela janela, me convidou

Pra tarde tão bela e sem calor

É mês de maio

Saio e vou ver o sol se por

Horizontes de aquarela

Que ninguém jamais pintou

E o enxame de estrelas

Diz que o dia terminou

Noite nem se formou

E a lua cheia já clareou

Sombras podem ir, façam o favor

É mês de maio

É tempo de ser sonhador

Quem não se enamorou

No mês de maio, bem que tentou

E quem não tiver algum amor

Dos solitários

O mês de maio é protetor

Boa terra, velha esfera

Que nos leva aonde for

No futuro quem me dera

Que te dessem mais valor.



Me vejo agora diante da tela em branco. Querendo escrever tudo o que sinto. Tentando colocar na tela do computador, nessas letrinhas tão sem formas e frias todo aquele sentimento que me invade e me confude.

Tudo agora é tão confuso na minha cabeça.

Acabei de assistir "Do que as mulheres gostam" na Globo. E depois de um dia em que a imagem dele me vinha a mente a cada momento, quis que ele fosse o Mel Gibson e eu a Hellen Hunt. Quis com todas as minhas forças que nossa história tivesse um final feliz. E que no final começasse a tocar aquele musica romantica de fundo, a gente se beijasse e a câmera começasse a se afastar e a rodar em torno de nós. E que antes que o filme acabasse a imagem fosse paralizada na gente se beijando. E então na mente das pessoas ficaria como se aquele beijo fosse eterno.

Por um momento eu quis ele ao meu lado. E nesse exato momento eu esqueço o tanto que o amor me fez sofrer. E volto a sorrir novamente sonhando com o momento em que a gente vai se beijar e a câmera vai rodar em torno de nós.

Eu me lembro da sua mão tocando levemente a minha. E do momento em que meu olhar cruzou com o seu e você sorria.

Quando eu te conheci e me encantei com você. Me lembro de quando eu vi você junto dela e tive vontade de chorar. Me lembro de como eu você que nos conhecíamos a apenas um dia estavamos tão juntos e de como você e ela que eram namorados estavam tão distantes. E agora quando vocês estão realmente distantes eu quis ser o motivo (e me senti a pior pessoa do mundo por sentir isso).

E me dá até uma vontade de chorar em pensar que ainda há esperanças e que um dia vou amar e ser amada.

Sonhos...

Eu me lembro de todas as outras vezes em que eu amei e estraguei tudo, ou quando eu não era amada e por isso sofri tanto.

E eu penso se há realmente motivos para ter esperanças.

E penso que se quando a gente começar a nos ver todos os dias e você começar a me conhecer realmente se você não vai desencantar.

Tenho medo agora. Medo de sofrer. Medo de que você não goste de mim ou não pense em mim.

A cada momento sua imagem vem a minha mente e meu coração parece bater mais forte. E parece me dar a certeza de que te amo.

Lá vou eu de novo... atravessar o tempestuoso vale que é o amor.
[04 de maio de 2004]



Um lugar que agora me é estranho e que terá que ser meu lar. Ai meu Deus, terá que ser meu lar. Ruas estranhas que pela primeira vez vi e que serão em breve minhas companheiras. Duas pessoas conhecidas e estranhas dos meus sentimentos e que terão que ser minha familia. E em minha cabeça tudo girava, e cada instante mais rapido e rapido. E em mim as lagrimas se conservaram com medo.

O medo que a invade a cada instante e que não a deixa dormir.

Em volta pessoas tão queridas. E a felicidade que me consola, que me ampara. Porque a amizade nos ensina e nos salva. Olho em volta e vejo Deus em cada ser, em cada olhar, em cada abraço e em cada segundo. Uma alegria espontânea e pura que me faz ter a certeza de que Deus não desampara, nunca!
[26 de abril de 2004]