22 junho 2008
17 junho 2008
Há tantas coisas que eu gostaria de te dizer. Coisas que vão muito além do que a história de uma lagarta que um dia se transformou numa bela borboleta. Aquela que fez se encantar seus olhos, ao exibir asas cheias de lantejoulas com movimentos quase reais.
Domingo passado, quando olhei teus olhinhos fechados e suas mãos postas meu coração se enterneceu ao ouvir as doces palavras da oração que seus lábios me ditavam. Meu coração se encantou diante de sua grandeza.
Quando corre por entre as árvores, entoa as canções, ri alegremente e fala de um tal Mestre que mora dentro de teu coração, o meu se enche de esperança. Essa tal esperança que andava distante de minhas palavras.
E eu me sinto tão pequena diante de tanta coisa que eu gostaria de te falar. Por mais que eu saiba que minhas palavras não matam sua fome, não te cobrem do frio, não te livram do preconceito e nem asfaltam sua rua. Mas, eu insisto. Porque meu coração necessita.
Ah, seu eu pudesse fechar teus olhos puros, guardar-te em minha redoma para que o mundo não te devore, para que o sofrimento não te alcance. E que para sempre você fosse criança....
08 junho 2008
06 junho 2008
Sabe, dessas de cabelos lisos que balançam ao vento. Dessas, que se pintam. Que se enfeitam. Que se perfumam.
Sim, uma mulher. Dessas com agenda, maquiagem na bolsa, sapato nos pés e salto alto. Planos para o futuro e esperando para ser chamada "num" concurso.
Linda.
Sim, uma linda mulher.
Por mais que aquela garotinha gorda, de óculos de aro dourado (?!?!), camisetão, cabelo sempre preso, faladeira teime em acreditar.
Ainda que que a menina insista em falar alto demais, rir quando não deve e dar os foras mais engraçados sempre.
Ela agora olha no espelho e suspira admirada. A garotinha gorda nunca imaginou que ia se tornar uma mulher tão bonita.
01 junho 2008
Assim como eu me acostumei com a cidade cinza.
Ela se acostumou com a fome, para manter-se magra.
Ele se acostumou a elogiar para fazê-la feliz.
O outro se acostumou a sorrir pra não ter que dar explicações.
Ou ainda a guardar pequenas raivas para não criar conflitos.
Ela se acostumou a sentir dores nos pés ao invés de descer do salto.
E a fazer tudo correndo porque deixou para a última hora.
E sabe de uma coisa? A gente se acostuma de certa forma que passa a fazer sentido desse jeito.
É, a cidade cinza faz sentido as vezes. Guardar certas coisas para não magoar os outros também. Acordar cedo. Ganhar pouco. Ouvir sempre. Calar quando preciso. Beijar de mês em mês. Ouvir sua voz pelo telefone. Comer moderadamente. Planejar. Chorar baixinho embaixo do chuveiro. Calar minha dor frequentemente.
Sabe, a gente se acostuma sim. E se acostumar quase sempre, machuca.
31 maio 2008
E eu gostaria de ter gravado cada respirar nosso desde que você chegou.
Por razões que a própria razão desconhece (como diria alguém em algum lugar).
Talvez seja por causa da sua voz.
Pela certeza que ela me confia.
Por me fazer arrepiar ou me falar ao pé do ouvido.
Pelas palavras de amor que só ela é capaz de me fazer ouvir e acreditar.
Talvez pelos beijos, pelo toque, carinho, dormir de conchinha e olhar nos meus olhos com vontade.
Talvez pelo modo como você me faz rir.
Ou pelo modo como eu me viro e desviro de preocupação com suas gordurinhas, colesterol, glaucoma e todos as demais coisas que me trazem a sensação maravilhosa que você é de verdade.
Ou pelo modo como eu faço nossos planos sem medo.
Ou porque só você sabe dos meus segredos mais incontáveis.
Talvez seja por causa da sua preguiça que me irrita.
Ou ainda por causa da intensidade futebolística que paira em você.
Ou simplesmente porque Deus, e só Ele seria capaz disso, juntou nossos caminhos no momento exato (isso com certeza).
Ou porque naquele dia no aeroporto quando você me beijou pela primeira vez eu desejei sentir isso pelo resto de minha vida.
Ou ainda por que eu adoro discutir suas idéias neoliberais.
E te depilar. E te ensinar a cozinhar. E dividir meus dias todos com você, como em um certo janeiro.
Ou porque amo poker com você, e fico admirada com suas argumentações quando a "cidade dorme...".
Ou ainda seja porque quero ensinar o Daniel Jorge a escrever seu imenso sobrenome.
Ou também porque vai ser muito brega casar em 10/10/10 às 10hs, mesmo que quando chegar lá isso não dê certo e ainda exista esses tantos KM que insistem em nos separar.
Ou talvez seja por causa de sua inteligência encantadora.
Ou ainda por sua fé. Por sua força, Sua fragilidade escondida...
Não sei, o amor não precisa de motivos.
Meu vício, ainda que as vezes insista em se acalmar.
Em se calar.
Eu aperto cada sentimento dentro de mim pra ver se o entendo.
Mas eles são tão inconstantes e às vezes tão determinados que me assustam.
Esse tal de tempo passou tão rápido.
E esse tal de sentimento insiste em você.
Você.
Você..
Você...
Pra sempre...
Enfim.
Meus olhos podem fechar-se com calma.
Minha cabeça pode recostar-se.
Minha mão pode descansar na tua.
Meu coração pode bater levemente.
E minha alma pode retirar a antiga placa.
Porque nos teus braços eu sinto gosto de paraíso.
Gosto de pra sempre.
Como nunca o meu faz-de-conta imaginou que ia ser.
Ah, se eu pudesse por um instante, compreender meus próprios sentimentos.
Talvez eu achasse as respostas certas.
Ou talvez ficasse louca.
Não sei.
Dos meus sentimentos eu não presto conta.
Não dou recibo.
Nem nota fiscal.
Nem comprovante.
Nem garantia.
Pois eles mudam com tanta frequência, que me dão nausea.
E essa inconstância me tortura.
Se ainda agora eu fechar meus olhos, posso fazer de conta que não acabou. Posso sentir novamente aquela felicidade. Indescritível. As palavras, as músicas, as vozes, as mãos, as promessas de não se abalar com o tempo. E de sermos irmãos uma vez por ano, como eternidade. Se fecho meus olhos, consigo sentir cada sorriso, cada palavra, que fez com que eu sentisse meu coração bater novamente. Pelo ideal que havia se perdido no eco. No eco das minhas dúvidas.
Se exatamente agora eu fechar meus olhos, não os abro mais. Porque, enfim, sinto a felicidade. E posso pôr meus pés no chão.
[26 de fevereiro de 2007]
A vida pede para ela, coisas que ela não pode dar. Respostas, que ela não tem. Decisões que ela nao quer tomar. Como se fossem café amargo.
A menina quer, brincar pelo caminho. Esperar a vida dar as respostas. Mesmo que ela não saiba de que raios de pergunta é que se trata. Aproveitar cada segundinho. Cada palavra. Cada sentimento entregue. Ao invés de deixar a distância bater martelinho na sua cabeça.
Ela nunca sabe onde vai. Por onde começa. Pra que serve. Nunca sabe o lugar. Nem o que quer. Nem quem....
[01 de fevereiro de 2007]
Somente porque temo. Porque uso a razão, sem querer. Porque não consigo, e me odeio por isso.
Com você, só com você, eu senti novamente, ou talvez pela primeira vez, meu coração bater forte o suficiente.
Só de ouvir sua voz me pedindo pra ser seu cobertor de orelha.
E marejar os olhos de vontade de ter você por perto.
Ter coragem de encarar meus medos, só pra sentir sua respiração um dia.
Por você eu fecho meus olhos tarde.
Deixo pistas, nas entrelinhas.
E mesmo assim, não consigo te entregar, o meu pobre coração.
Fecho as mãos como uma menina boba.
Que tem medo do que desconhece.
[24 de janeiro de 2007]
Só pra ver se assim, eu sentia os motivos.
Mas.. eu devo ter mesmo uma cara muito nojentinha. Dessas que espantam. Cara de limão. Cara de quem tem o ego maior que a alma. De quem acha que o mundo gira entorno do umbigo. Dessas que fazem eles pensarem que eu sou muda. E surda também. Que não ouço as suas vozes da minha janela. Que não ouço o seus risos. E que não os invejo. Por mais que isso soe ridículo aos meus ouvidos. E como soa...
Talvez eu seja mesmo. Uma cara de limão. Anti social.
Sozinha. Com vontade de ir embora.
Agora. Já.
Ah, deixa pra lá.
Vai menina, fecha os olhos. Solta os cabelos. Joga a vida. Como quem não tem o que perder. Como quem não aposta. Como quem brinca somente.
Vai, esquece do mundo. Molha os pés na poça. Mergulha no que te dá vontade. Que a vida não espera por você. Abraça o que te faz sorrir. Sonha que é de graça.
Não espere. Promessas, vão e vem. Planos, se desfazem. Regras, você as dita. Palavras, o vento leva. Distância, só existe pra quem quer. Sonhos, se realizam, ou não.
Os olhos se fecham um dia, pra sempre. E o que importa você sabe, menina. É o quão isso te faz sorrir.
E só.
[13 de janeiro de 2007]
Olha o verde se perder no horizonte.
Descobre os desenhos que a nuvem fez no céu.
Coloca Elis Regina pra embalar os nossos sonhos.
Chico Buarque pra cantar e repetir.
Pede pro relógio passar lentamente.
Come chocolate sem culpa.
Tem medo da chuva forte lá fora.
Me diz aí quem é o compositor.
Vê na janela corrida de pingos.
Faz planos pra um futuro incerto.
Dorme sem sono.
Fala da vida na cidade cinza.
Ri do que não se pôde compartilhar.
Talvez por isso eu elabore minhas próprias teorias. E tento segui-las cegamente. Talvez por isso eu tenha minhas regras inquebráveis. Por nunca ter sentido algo que me faça ter vontade de não tê-las. Fazê-las picadinho.
Quem sabe é pedra, o que tenho do lado esquerdo. Quem sabe é verde. Não sei.
O vale da solidão é comodo demais pra mim.
E eu me espreguiço.
Me canso.
Me deito.
Me esqueço.
[01 de dezembro de 2006]
Ela abre os olhos. Levanta da cama enquanto seu corpo implora por mais cinco minutinhos. Toma seu banho gelado. Café da manhã mais ou menos. Abre a porta e olha o dia que vem pela frente. Onibus lotado. Faculdade nem tanto. Respira fundo. Sua cabeça em outro lugar. Fila. Almoço sem sal. Trabalha com dor de cabeça. E sorri pra não ser incomodada. Bate o ponto. Se equilibra no ônibus. E desce para o resto do dia.
Ah, essa vida de proletária. Volta pra casa não sei porque. Não sei por quem. E deita a cabeça no travesseiro como quem não quer o resto do dia.
Calma. Respira fundo. Tudo vai passar. A dor de cabeça. O cansaço. A desesperança.
[30 de novembro de 2006]
Esqueceu-se da delícia de se molhar na chuva. De colocar barquinho de papel no fio de agua que corre pelo meio-fio. De ficar com os dedos enrrugados. De pular nas poças d'agua. De molhar e sujar a roupa. De rodar com os braços abertos. E de levar bronca da mãe ao chegar em casa.
A menina sentiu-se pequena por correr da agua que caía do céu. E por um instante ela olhou a chuva com os olhos da infância que ainda há dentro dela. Olhou somente. O corpo da menina não teve forças para novamente tomar banho de chuva, molhar os cabelos e enrrugar os dedos. Olhou as horas novamente. Viu os pingos da chuva enfraquecerem quase que por tristeza de ver que a menina perdera seu encanto. A menina atravessou a rua correndo com a bolsa sobre a cabeça. Entrou no onibus com o olhar cansado. E a chuva desistiu de pingar, na tristeza de ver que a menina, realmente, virara um cogumelo.
[11 de novembro de 2006]
A ilusão da democracia
"Por maior que seja a tentação de se entregar ao efeito anestésico das ilusões, não há como negar que viver numa "democracia representativa" significa que as decisões são tomadas sem o voto popular. Significa que o cidadão não vota as leis que está obrigado a obedecer e nem participa diretamente das resoluções dos assuntos públicos. Ele elege representantes, os líderes políticos, para decidir em seu lugar. Apesar disso, o cidadão, com a mesma naturalidade que julga normal a sua não participação na vida pública, exceto no momento da eleição, acredita piamente que vive num Estado verdadeiramente democrático e dificilmente admitirá que os Estados sob o governo representativo são todos oligárquicos, simplesmente porque, na realidade, é uma minoria quem efetivamente governa."
Jorge José da Costa (mestre e doutorando em ética e filosofia política pela USP)
Em momentos como estes, não há como abster-se de falar sobre política....
[06 de novembro de 2006]
As malas que não foram desfeitas. Em cima da cama que não foi arrumada. A poeira em cima dos móveis. E a luz do banheiro queimada. As janelas fechadas, que quase fazem a menina esquecer da cidade cinza. Fecha os olhos para o sol ou para a chuva que cai lá fora.
Deita na rede, olha o céu. Esse mesmo céu que abriga as pessoas do coração da menina. E então, aqui, agora, faz de conta que não existe distância. E daí, nada mais importa. As metáforas fazem cosquinhas na sua cabeça. E seus olhos fazem poesia da vida. Sem o dever de ser tristeza ou alegria...
[17 de outubro de 2006]
As minhas regras sou eu quem faço.
A minha vida sou eu quem dirijo.
Simples assim.
Ah, o mundo me cansa.
A barulho da cidade cinza.
O cheiro dos carros na rua.
A doce ilusão da felicidade.
E da eternidade.
Pois, apesar de tudo, de toda a indisciplina, de toda a gritaria, de todas as dúvidas. Meu coração teima em pedir segurança. Andar descalça pelo caminho da vida. Passar pela porta estreita.
O coração da menina se cansou do mundo, de suas promessas, de suas ilusões.
Agora ele bate devagarinho, cansado, calmo e sereno. Pedindo um pouco de Deus.
[06 de outubro de 2006]
E daí? Ninguém sabe...
Você está acostumada a viver sozinha. Sempre.
Aliás, você se acostumou a ir no cinema sozinha, escolher o filme que quer e a não ter ninguém de nhém-nhém-nhém no seu ouvido durante o filme. Sabe, estar sozinha é uma posição cômoda. Uma posição boa, eu diria, de certa forma.
E de repente você não sabe.
Você se vê de frente para o espelho, duas blusinhas na mão, os pés descalços e um ponto de interrogação na meio da sua cara no lugar onde deveria estar a maquiagem. O relógio desperta (aquele relógio que você pôs pra despertar para não chegar atrasada.) Você coloca qualquer uma das blusinhas correndo, o seu salto mais alto e tenta disfarçar o ponto de interrogação com um pouco de pó e blush (se é que isso é possivel...)
Daí em diante a coisa só tende a piorar.
Você chega, não sabe se beija, se abraça, se aperta a mão ou se diz apenas "oi, eu demorei?". Depois não sabe se assiste o filme que quer, se pergunta qual ele quer assistir (correndo o risco de ficar ouvindo tiros a noite inteira) ou se tenta entrar num acordo ( o que normalmente resulta em um filme que nenhum dos dois realmente queira assistir.).
Tudo bem, ele é legal, inteligente, bonito e pergunta como foi seu dia.
Ela também, finge ser normal melhor do que ninguém... Fala da faculdade, do ultimo filme que entrou em cartaz, é inteligente e bonita.
Relaxa.
Ninguém sabe o que fazer.
Você olha pra ele, e lá está, um imenso ponto de interrogação. Ele também não sabe. Se segura sua mão. Se compra alguma coisa. Se olha pro relógio ou põe as mãos no bolso. E lá vamos nós...
Ela não sabe, se deve ser ela mesma. Se pode rir alto. E contar piada. E falar mal do governo. Ou se deve, fingir que é normal. Rir quando ele tentar ser engraçado. Falar baixo. E deixar ele pagar tudo (por mais que ela não goste).
Ele não sabe se fala de poesias, sobre filhos ou musculação, simplesmente por que não sabe se você vai achar lindo ou se vai rir da cara dele. Tudo porque ele está perdido... e quem não está?
Tudo bem. Você se resolve e finge que é normal, reações contidas, fala baixo e anda de mão dada com a dele.
Normal.
Ambos estão cansados.
Ambos estão perdidos.
Ambos estão confusos.
Assim como todas as outras pessoas que passam pela rua...
[02 de outubro de 2006]
O dia amanhece e se coloca, a mascara de cada dia.
Finge ser quem não é.
Finge ter carater.
Finge sorrir.
Finge dançar.
Finge ter amigos.
Finge acreditar na própria mentira. (acho até que se chega a acreditar)
E não há coragem para se retirar a máscara.
Há o medo.
De perceber.
Que o sorriso é lágrima.
E que as amizades são como as cobras.
E que ninguém acredita na máscara que se põe.
Mas não tem problema... enquanto você finge ser feliz, a menina também finge acreditar.
Porque todo mundo tem uma máscara escondida na manga.
É, a cidade cinza.
Sempre cinza.
Triste, mas verdade.
[23 de setembro de 2006]
Um dos terrenos, no interior do coração da menina, está sempre ocupado.
Foi comprado logo que ela nasceu por pessoas a quem a menina aprendeu que se deve chamar de familia. É um terreno vitalício. Está sempre cheio, de açucar e de afeto e hoje em dia de saudade.
Um outro terreno guarda os momentos fatalicos, com muitas partidas de war, muitos téras na madrugada e tapioca na mesa.
Sabe, recentemente mais um terreno foi ocupado, por um quarteto fantástico (através da união de seus anéis).
Há também terrenos individuais (e não menos importantes é claro). A menina vento possui um deles. Uma flor possui o outro.
Quando a menina cresceu (apesar de não ter deixado de ser tão menina...) ela resolveu leiloar um dos espaços que há em seu coração.
- Quem dá mais, quem dá mais. Gritava a menina.
E gritou por anos.
E muito demorou até que alguem aparecesse.
Ainda de vez em quando aparecia um ou outro, ficava algum tempo, mas a menina era menina demais e o terreno ainda não estava pronto.
Certa vez a menina o quis vender a um amigo, mas a única coisa que ele tinha a oferecer era alguns dias de carência. E isso não era suficiente. Porque na verdade ele já possuia outro terreno. E deixou a menina com a sua comprreensão.
Outra vez, o menino moreno o quis comprar. Mas também não possuia muita coisa a oferecer. Havia dado tudo ao mundo e nada sobrara à menina.
Teve também o menino carente que queria de qualquer jeito comprar o terreno. Tentou com flores e com telefonemas incansáveis. Mas para este a menina não queria vender. E não adiantou a insistencia.
E assim, o terreno foi ficando abandonado.
Foi guardando as desilusões, os arrependimentos e os casos mal-resolvidos.
E com o tempo a menina foi se cansando de gritar.
Não havia mais voz.
- Quem dá mais. Fala ela baixinho que até chega a esquecer.
- Tem alguém aí?
Mas só o eco responde: tem alguém aí, alguém aí, alguém aí...
O terreno está vazio, acumulando velhas lembranças, juntando poeira e repetindo o eco.
Mas, agora não importa.
A cidade ao redor da menina não é cinza.
A flor está ao seu lado.
A placa de vende-se foi retirada.
Temporariamente.
[09 de setembro de 2006]
[26 de julho de 2006]
[04 de julho de 2006]
Tudo está acontecendo enquanto eu estou aqui sentada dando milho aos pombos. Todos estão se encontrando enquanto eu estava aqui batendo palmas.
Alguém me explica. Se há uma receita. O que eu estou fazendo de errado. Como consigo estragar tudo, mesmo antes de tudo começar.
Por que eu assusto as pessoas.... Sabe, cansei mesmo.
As janelas continuam fechadas.
E as portas trancadas.
E não há ninguém nas ruas.
Cansei das comédias romanticas.
E dos dramas.
E das comédias (non sense) que tanto assustam os homens.
Quem sabe perderam... o que estava guardado pra mim.
Quem sabe sou frigideira.
Ou ainda quem sabe o pé cansado não gostasse de chinelos velhos e resolveu comprar uma bota.
Agora com licença, que vou ali, rapidinho, alugar um filme, comprar um pote de sorvete e me afundar na minha solidão...
[26 de maio de 2006]
Dos dias nublados.
Do barulho do relógio.
Da porta fechada.
Da solidão.
Do rosto no espelho, que vejo agora.
Do barulho da TV.
Das músicas antigas.
Da fé, que agora me parece mecânica.
Dos pontos de interrogação.
Da janela cerrada.
Da página em branco.
Do riso estrondozo.
Das palavras secas.
Da máscara que se põe.
Da dor de cabeça que se sente
Da falta de vontade.
Do relógio que bate.
Dos 20 anos.
Do barulho lá fora.
E do silêncio (aqui dentro).
Dos pés calçados.
E de se equilibrar no salto.
Do vento seco.
Das folhas que caem na calçada.
Do sol que queima a pele.
E do frio que a faz ressecar.
Do padrão que se deve seguir.
E das regras que não se pode quebrar.
Sabe... cansei, da vida que se sobrevive.
Da dor e da solidão que se sente....
Agora com licença, que eu vou ver se acho por onde eu me perdi, e volto já.
[20 de maio de 2006]
(...) Senão é como amar uma mulher só linda
Não são sentidas pela tela fria.
Nem pelo papel em branco.
Nem ao menos por aquele que as lê.
Não procure sentido pois não há.
Não há no que se vê.
Não há no que se pega.
Há no que se sente.
No que se vive e se tenta escrever.
Essas palavras são poucas.
São vazias
São frias.
Eu tento juntá-las tento apenas.
Só porque eu não gosto do silêncio e não consigo suportar guardá-las aqui
dentro de mim.
[25 de março de 2006]
Arte dos adiamentos eternos e das conversas com a geladeira.
Arte de ter fome e não ter nada no armário.
De chegar cansada em casa e dormir de calça jeans e tudo.
De não ter quem te cuide quando estás com febre.
De ter somente agua na geladeira.
E uma unica toalha limpa.
De chorar baixinho enquanto toma banho.
Arte de ligar a TV pra não ficar no silencio.
E de ficar quietinha ouvindo o barulho la fora.
Dolorida arte, doce arte, estranha arte.
É exercitar a loucura de nascer todos os dias no tempo.
É caminhar entre os meses como quem chuta pedras no chão.
E a campainha - a campainha continua quebrada. "
[05 de março de 2006]
E ela quer negar seu sentimento, apesar de continuar a sentir.
Seu coração já acostumado bate sempre no mesmo ritmo.
Seus olhos sempre secos se perdem enquanto enxergam a cidade cinza.
Enquanto isso seus pés caminham mecanicamente para onde sempre vão.
Seu corpo já está acostumado, mas seu coração teima em relutar.
Seus olhos teimam em se abrir e querer ver a outra paisagem, mas vê tudo sempre cinza.
Nas ruas os carros correm.
Nos rostos os olhos estáticos.
Na televisão as pessoas sempre felizes.
E a vida segue, fingindo não ver a menina triste. E
a menina triste finge não ver a vida seguir.
Ela finge que a vida pode esperar por ela.
[20 de fevereiro de 2006]
O que significa ser mais forte do que eu realmente sou...
Segurar o choro ao ver minha mae tão fragil...
Ir ao cinema sozinha ao invés de invés de ficar em casa pensando que não há ninguém pra ir comigo...
Ficar tanto tempo sozinha... estar a vida inteira sozinha e me manter calma achando que o amor um dia vai aparecer...
Estar cansada e estressada e estar quase explodindo e fazer o trabalho de filosofia de madrugada ao invés de jogar tudo pro alto...
Dormir quando se tem vontade de chorar até começar a soluçar...
E ainda rezar mais do que reclamar...
Economizar ao invés de descontar minhas magoas todas em uma tarde na praça de alimentação do shopping...
Achar que as doenças saram, a dor passa, o estress é TPM, e a tempestade logo vai passar... sem choro e sem ter jogado tudo pro alto antes que tudo se resolvesse por si mesmo...
As vezes esse meu tornar-se racional me machuca... as vezes eu quero poder dar uma de fraca e chorar por não se ter um amor...
Mas a vida agora não me deixa ter esse tipo de regalias...
reciso ir pra casa do meus pais... pra poder me sentir fragil, me sentir incapaz e chorar e pra sentir que tem gente pra me protejer desse mundo dolorido...
[21 de março de 2005]
Pedi ainda pra ele a felicidade... e ele disse que isso dependia da minhas escolhas.
Pedi depois que ele me ajudasse a escolher... ele disse pra eu pensar bem, e agir com o coração e disse ainda que eu ja era bem grandinha e ia saber fazer as escolhas certas...
Aí um dia eu escolhi... escolhi vir pra cidade cinza.
Talvez eu não estivesse bem nesse dia... talvez eu tivesse com muita dor de cabeça e disse qualquer coisa sem pensar...
Talvez ainda eu tivesse dormindo e escolhi logo pra poder voltar a dormir... não sei, só sei que quando escolhi não sabia bem as consequencias dessa escolha...
Ontem pedi pro papai do céu se eu podia voltar no tempo, se eu podia mudar minhas escolhas, voltar pra minha cidadezinha...
Ele, muito paciente, me disse que não.
Eu, com medo, implorei...
Ele me disse, olhando com seu olhar paternal, que eu fiz a escolha certa...
Eu, agora chorando... perguntei se ele era cego e não estava vendo no que minha vida tinha se tornado. Mandei ele olhar pra mim e ver se eu estava feliz, pedi que ele olhasse pra minha vida, pras minhas tardes inuteis, pra menina que mora comigo, pra distancia que me separa da minha familia e daqueles que amo...
E Ele, com sua bondade de Pai que a todos os filhos ama e compreende me disse:
- " filha querida, não fale as coisas sem pensar, não chore diante das suas infimas dificuldade, olha a teu redor e veja quanta coisa boa eu coloquei no teu caminho, olha aquelas almas amigas que já cativaste nessa sua "cidade cinza", olha a oportunidade de aprendizado que apenas tão poucos desfrutam... Filha minha, és privilegiada e não é capaz de ver... é voce que se faz de cega diante das felicidades multiplas que te ofereço.. não chores, querida... toma vergonha na cara e vai estudar ao invés de ficar postando!
E eu... Bom, eu fui estudar... antes que ele resolva me por de castigo...
[23 de fevereiro de 2005]
30 maio 2008
Não procure decifrá-la... nem perca seu tempo pensando no porque as coisas foram parar onde estão agora...
Ou como você foi parar num laboratorio de informatica da faculdade pra despejar suas angustias em um blog!
Ou o que você faz numa cidade grande e cinza longe da sua familia e de seus amigos...
Ou porque ainda algumas vezes você chega a gostar de uma cidade cinza e que ela as vezes parece até que tem alguma coisa de cor...
Não procure a resposta do porquê voce está sempre sozinha... e ninguém quer namorar você... (e porque em certas circustancias você acha que isso é uma coisa boa ?!?!)...
Não pare pra pensar nessa vida que você leva... nem no leite com bolachas que você acabou comendo no domingo no lugar do almoço... nem na sua imcapacidade de parar de comer carne vermelha.. nem na menina que agora mora com você... nem em você matando aula de Comunicação e Espressão pra concluir esse post...
Não pare pra pensar no porque as coisas estão como estão... e nem porque você não vai parar pra pensar nessas coisas...
Não pense em nada disso... porque ou você fica louca (como acho que estou ficando) ou você perde a oportunidade de viver esses momentos... ( e ainda de modificar o que você acha que está fora do lugar...)
[14 de fevereiro de 2005]
Receita de Ano Novo
Carlos Drummond de Andrade
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação
como todo o tempo já vivido (mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come,
se passeia,
se ama,
se compreende,
se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade,
recompensa, justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados,
começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo,
eu sei que não é fácil, mas tente,
experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.
[06 de janeiro de 2005]
Meu coração dói tanto que anula a minha vontade de que o ano começe...
Tenho medo de que a doença te leve pra longe da gente.
E com você leve também todo o sorriso da minha avó.
Vejo os olhos teus perdendo o brilho a cada dia. Vejo as tuas pernas cansadas dessa caminhada. E por mais que eu lhe beije a face já enrugada pelo pesar dos anos e lhe diga que te amo com todas as forças que ainda me restam, e por mais que eu tente te alegrar com as minhas piadas já gastas... vejo você esmorecendo aos poucos. E isso me causa tanto medo. Mais medo do que eu sou capaz de lidar....
Não deveria existir tempo.
E nem os anos poderiam passar para que você numca ficasse mais velha. Porque agora eu consigo sentir que as pessoas vão ficando mais velhas e um dia elas vão morar lá no céu... Ah, avózinha, se você pudesse entender o quanto eu te amo... você sorriria mais e não desistiria da caminhada assim tão facil...
E se eu soubesse que o seu tempo aqui é curto e que talvez não poderei lhe beijar a face na virada do ano ainda que você já estivesse dormindo e cansada como nesse.... Eu comeria da sua comida até me sentir empanturrada... e pediria pra assistir videos antigos de casamento da familia mais vezes... e ainda te diria que te amo... e contaria as ultimas novidades da minha casa nova...
E por mais que a tristeza me invada ao te ver assim tão fraca... começou um novo ano e você ainda está aqui ao meu lado... ah se você soubesse de quanta felicidade isso me inunda...
[06 de janeiro de 2005]
Eu não tinha faca e comi bolo com a mão.
Essa semana eu tomei café.
Eu dormi sem querer no ônibus e quase passei do ponto.
Essa semana eu fiquei sozinha e não tive com quem conversar.
Eu me molhei toda na chuva ao invés de esperar ela passar.
Essa semana demorou pra passar.
Essa semana eu andei de sombrinha por causa do sol.
Eu lavei os tapetes e só varri a casa pra ver se ela ficava menos suja.
Eu passei alguns dias ao lado da minha irmã do coração.
E essa semana eu comprei um livro.
Essa semana eu brinquei de amigo-oculto.
E eu ganhei um cd maravilhoso de mpb.
Eu dormi a tarde.
E fiquei com medo quando acabou a luz.
Essa semana eu esqueci de lixar minhas unhas.
E fui no cinema novo que inaugurou.
Essa semana é enfim a ultima aqui.
E amanha eu volto pra casa.
E vou ver minha mãe, meu pai e meu irmão.
E dormir na minha cama quentinha.
E vou passar as férias inteirinhas sem ter que comer baguncinha e espetinho de jantar.
E vou deixar essa cidade barulhenta por pelo menos um mês......
[16 de dezembro de 2004]
Só as vezes.
Não o tempo todo.
Mas assim... quando me vejo sozinha. Quando não tenho com quem conversar. E quando me roubam o celular e fico incomunicável. Quando estou longe da minha familia e não passo o aniversário do meu pai junto dele. Quando me falta dinheiro até para pegar onibus para ir no centro espirita. Quando começo a rir sozinha na frente da TV. Ou quando e principalmente quando estou aqui sozinha.
Mas a vida não é sempre assim. Não é sempre que a vida dói desse jeito.
Dói só as vezes.
Dói só um pouco.
Mas logo passa... eu sei...
[06 de dezembro de 2004]
A minha amiga que mora comigo já está de férias e já voltou pra casa... e aqui estou eu.... com a casa só pra mim.
Não sei se isso é bom. As vezes bate uma solidão. Não ter com quem conversar.
Mas em partes até que é bom. Eu posso limpar a casa quando quiser. Posso me empanturrar de comida sem nimguém pra chamar a minha atenção e dizer que depois sou eu que vou ficar gorda. Posso andar de calcinha e blusinha pela casa. Posso dormir de camiseta velha. Não me preocupo se nimguém volta pra casa na hora de dormir. Posso fazer os meus trabalhos de madrugada sem me preocupar em acordar alguém. Posso ligar o som de manha e não tomar café da manha se eu quiser...
Estar sozinha tem la suas vantagens... O problema é que não tem ninguém pra me ajudar a limpar a casa. Ninguém que lave o banheiro (que eu odeio...). Não tem ninguém que me acompanhe nas minhas estravagâncias na padaria e no banguncinha. E não tem ninguém que me conte as novelas que eu não perco tempo assistindo...
O pior de tudo é ter que chorar sozinha sem nimguém pra me abraçar. Porque não tem graça chorar com amigo homem... que eles não sabem o que fazer, eles não te abraçam... ficam mudos e dizem "não se preocupa, tudo passa..."
As vezes eu quero ir embora, mas as vezes até que dá vontade de viver aqui... Ah... essa menina... complicada como ela é...
[03 de dezembro de 2004]